Pandemia é oportunidade para ver a importância da tecnologia na gestão do mundo corporativo

Fazendo mais com menos, os softwares de gestão ajudam na retomada dos negócios, já que seu papel é proporcionar dados inteligentes para direcionar os recursos de forma mais assertiva, otimizando as operações. Afinal, a Covid-19 praticamente inutilizou todos os modelos de previsão de demanda.

Muita coisa – ou praticamente nada – do que foi planejado antes da pandemia de coronavírus fará sentido no “novo normal”. Nós nem sabemos como será esse “novo normal”, mas é importante olharmos para as oportunidades que vêm surgindo, nem que seja para mudar tudo depois, novamente. Nesses tempos que vivemos, qualquer atitude vale para movimentar nossa rotina – e a de nossas empresas – e preencher o tempo com novas possibilidades. Não dá pra ficar só contando mortos.
Se antes da pandemia a transformação digital já estava no vocabulário das pessoas, agora e, principalmente, no “novo normal” que virá, haverá uma busca maior pela digitalização em vários níveis. “Isto porque está claro o papel e a importância da tecnologia em relação aos processos e à tomada de decisão frente aos vários cenários que as empresas são obrigadas a encarar, num ambiente de mudanças frequentes. A crise está dando um empurrão para a adoção de sistemas empresariais modernos”, expõe André Eduardo Miyajima, líder de Planejamento e Otimização da Dassault Systèmes.
Os softwares de gestão sempre tiveram papel fundamental e imprescindível no mundo corporativo, gerindo os diversos interesses na cadeia produtiva e de serviços. “Neste tempo de pandemia, não está sendo raro ouvir falar que muitas organizações – inclusive a nossa – têm tido muito sucesso na condução das suas atividades, mesmo por meio do home office, o que não se deve tão somente ao essencial mundo da internet, mas, sobretudo, aos softwares de gestão, guardiões de todos os negócios”, conta Rinaldo José de Oliveira, diretor comercial da ESL Consultoria e Sistemas em Informática.
Otimista, ele acredita que, muito em breve, deixaremos de falar somente do coronavírus e estaremos 100% focados em business, trabalhando arduamente a fim de recuperar as inevitáveis perdas. “É, justamente, neste momento de retomada que devemos explorar toda a capacidade sistêmica dos softwares de gestão, praticando uma governança austera, auditando as nossas despesas e custos, acelerando receitas, analisando os desvios, as tendências e os comportamentos, buscando, assim, achatar o mais rápido possível a nossa curva de perdas financeiras e econômicas.”
De fato, para Fabricio Beltrame, diretor de produtos da Bsoft Internetworks, usufruir de todos os recursos que os softwares podem oferecer será indispensável após esta pandemia, para que se possa tirar proveito de forma inteligente de todas as informações sobre a empresa, principalmente na gestão financeira. “No entanto, o papel dos softwares não é tão diferente do que sempre foi. Hoje, percebemos que os gestores estão buscando usá-los de forma mais efetiva, não apenas para controlar o fluxo operacional, mas também para extrair indicadores para tomar decisões mais assertivas, identificar custos que possam ser evitados ou minimizados e potencializar a venda ou a prestação de serviços mais lucrativos”, conta Beltrame.
Já nos primeiros dias após a OMS – Organização Mundial da Saúde estabelecer a situação de pandemia, houve um acréscimo no número de contatos feitos por proprietários de empresas de pequeno e médio portes em busca de suporte para operarem os softwares de gestão em home office, especialmente nos recursos de inteligência, como relatórios para análise estratégicas. É o que conta Michael Waller, diretor executivo da Cybersul Softwares de Gestão.
“Por essa simples constatação, já é possível notar que os softwares de gestão estão sendo fundamentais para a tomada de decisões estratégicas, tanto de planejamento e criação de contingências no curto prazo, quanto na montagem de cenários de longo prazo para operação dos negócios”, acrescenta.
Na análise de Robson Rizzotto, diretor Comercial e Marketing da Focco Soluções de Gestão, essa pandemia nos faz vivenciar um fato único, complexo e sem precedência, trazendo o contexto VUCA de forma muito explícita. VUCA é um acrônimo em inglês que significa volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity).
Segundo ele, os softwares de gestão têm uma relevância estratégica e fundamental para que as empresas consigam operar de forma competitiva e com as melhores condições para as inúmeras decisões que são exigidas o tempo todo. “Ocorre que, em muitas companhias, cada setor possui o próprio sistema de dados ou métodos de controle. Em momentos cruciais do negócio, como o que estamos vivenciando, isso pode dificultar a costura de informações e, assim, prejudicar o negócio no ambiente de recuperação econômica/financeira”, diz.
Rizzotto explica que uma empresa que realiza suas tarefas sem estruturação, certamente, terá muito retrabalho, problemas e perdas (financeiras, econômicas, marketshare), além de perder tempo e produtividade, que são cruciais para o sucesso do negócio. “Quando as pessoas passam a conhecer os processos e seguir à risca as indicações do sistema, o resultado é uma melhora no tempo de resposta aos fornecedores e clientes.”
De acordo com Antonio Carlos Gomes de Brito, sênior principal Digital & Value Engineering da Infor Global Solutions, a Covid-19 praticamente inutilizou todos os modelos de previsão de demanda, de planejamento de cadeia de suprimentos, de uso de mão de obra e de projeção de caixa. “Muitos negócios lutam para sobreviver em um novo ambiente. Mesmo softwares baseados em inteligência artificial deverão passar por uma reciclagem, um momento de reaprendizagem, retreinamento – já que todo o histórico não representa o mundo pós-pandemia.”
Ele diz que os softwares de gestão devem, portanto, apresentar características como flexibilidade, escalabilidade e facilidade de uso. Flexibilidade para permitir mudanças rápidas para os novos perfis de demanda, capacidades produtivas, estoques e ingredientes; escalabilidade para contar com novos usuários, substitutos aos titulares adoecidos em quarentena, ou mesmo adicionais para tratar de novos canais de distribuição ou de demandas emergentes; e facilidade de uso para reduzir o risco operacional dos novos usuários com pouco treinamento e exposição ao aplicativo.
“Companhias que adotaram práticas de gestão baseadas em plataformas aderentes aos negócios podem emergir mais fortes no cenário de recuperação econômica pós-pandemia. Além disso, os softwares de gestão modernos funcionam como serviço, na nuvem, que potencialmente reduzem o TCO (total cost of ownership, ou custo total de propriedade) da TI e da empresa”, explica.
Falando nisso, as empresas que tinham seus softwares de gestão não disponíveis na nuvem ou parcialmente em nuvem tiveram mais dificuldades no lockdown para manter sua operação totalmente ativa com os colaboradores em home office. Por esse motivo e prevendo um crescimento de 30% do home office no Brasil após a pandemia (segundo a Fundação Getúlio Vargas), Elton Willrich, gerente de vendas da Loginfo Tecnologia da Informação, acredita que pós-pandemia os softwares de gestão que ainda não estão em nuvem deverão acelerar esse processo de migração para que estejam disponíveis em várias plataformas e no local onde o usuário estiver trabalhando.

No topo
Todas as empresas precisarão rever seus processos de vendas, marketing, fabricação, comercialização, financeiro, logística, RH para poder atender à mudança de hábitos causada pela pandemia. “Precisamos entender o momento da empresa e suas dores para identificar se será necessário adquirir um software de gestão generalista (ERP) ou um especialista”, conta Eduardo Canal, diretor comercial da Zion Logtec Tecnologia em Logística.
Segundo ele, a movimentação no mercado sinaliza uma expressiva demanda para softwares voltados a: e-commerce (segmento que cresce dois dígitos a cada ano), logística (para armazenagem e distribuição de produtos, abastecendo as lojas dos supermercados e alimentando a linha de produção das fábricas), BI (com apoio da inteligência artificial gerando informações para tomada de decisão), CRM (gestão de clientes e funil de vendas), RH (gestão de colaboradores trabalhando em regime de home office, na geração de conteúdos para atender grande procura por EAD) e gestão de TI – Infraestrutura (para viabilizar os trabalhos feitos em home office).
Genival Fernandes, diretor comercial da Benner Sistemas, destaca que as empresas que contam atualmente com softwares de gestão especialistas em seus setores terão um diferencial competitivo.
De acordo com ele, softwares de gestão de capital humano aumentam sua importância, principalmente sob um olhar de gestão estratégica, impactando na tomada de decisão, na flexibilidade para atender à demanda por trabalho remoto, mas sem perder de vista a necessidade de medir a produtividade da equipe. Fernandes cita, ainda, os softwares de gestão de departamentos jurídicos, que visam garantir uma gestão efetiva dos processos e a resposta aos acionistas sobre os riscos e impactos destes processos no negócio.
Marcio Morari, diretor de projetos do Grupo MHA Tecnologia, acredita que a próxima onda pós-pandemia no quesito software sejam as ferramentas que possuem o poder de disponibilizar informações em tempo real e conectar as pessoas de forma automatizada e inteligente. “Independentemente do setor de atuação, soluções de automação de processos, inteligência e disponibilidade de informação, tanto para compra e venda, quanto para gestão, podem ser as que mais ajudarão na recuperação econômica a curto prazo.”
Por sua vez, Everton Oliveira Estevam, sócio-diretor da Mister Multas Consultoria e Assessoria de Trânsito, cita os softwares de gestão de marketing e de controle de gerenciamento, porque ambos caminham lado a lado, além de software de gestão gerencial, devido ao trabalho home office, que exige informações centralizadas.
Segundo Alceu Keller, diretor comercial da NDD, serão mais aplicados na recuperação econômica os softwares que apoiem a gestão na tomada de decisões, bem como os que consigam trazer ganhos operacionais e redução de custos. “É importante que a empresa possa estar preparada para a retomada. Este é um bom momento para tirar projetos de implantação de softwares da gaveta, aqueles que por priorização de questões urgentes do dia a dia não estavam no topo da lista. A empresa que aproveitar a situação para olhar para dentro e se estruturar, melhorando enquanto gestão e processos, aproveitará a retomada do crescimento com mais eficiência e certamente poderá imprimir um ritmo maior com base nesta estruturação”, opina.
As soluções relacionadas à compliance fiscal e governança são os pilares da reestruturação e, apoiadas nas soluções de BI, análise preditiva e BOT’s de ganho de produtividade, irão fornecer informações importantes para montagem dos cenários futuros e tomada de decisões. É o que aposta Jean Paul Vieira, diretor de Marketing e Produto da Senior.
As novas gerações de CRM integradas às soluções de MKT Digital também irão promover ganho de escala na operação comercial na nova conjuntura econômica, na qual gastos com viagens e visitas presenciais serão mais restritos. “Além disso, considerando a retomada da economia, a demanda reprimida e a adequação que muitas empresas fizeram para atender via e-commerce, uma boa gestão logística se faz necessária, então ferramentas de WMS (gestão de Centros de Distribuição) e TMS (gestão de fretes e transportes) de ponta também serão aliadas como diferencial competitivo neste retorno”, acrescenta.
Vieira cita, ainda, as soluções de gestão de pessoas com diferenciais para trabalho remoto, como redes sociais corporativas, controle de frequência e produtividade em home office e admissão digital, que deverão fazer parte da nova realidade das empresas que queiram trabalhar com custos otimizados.
Para a área de logística, Mauricio Fabri de Oliveira, sócio-fundador da RunTec Informática, imagina que as empresas buscarão soluções voltadas para visibilidade, colaboração e, especialmente no caso da Covid-19, soluções de logística reversa.
“Já podemos notar a formação de duas frentes de demanda: algumas empresas já começam a se preparar para a retomada do abastecimento de seus distribuidores e varejistas, e outra frente, ainda mais forte, de indústrias que estão com projetos de logística reversa de produtos contaminados”, observa.
Rodolfo Buchele, sócio e diretor técnico da SGR – Gestão de Logística Reversa e da Buchele Sistemas, diz que os softwares de gestão logística estão na base da cadeia produtiva e de distribuição. “O impacto da gestão logística se soma a cada camada do processo, fazendo real diferença no custo final dos produtos”, afirma.
Na análise de Ricardo Gorodovits, diretor Comercial da GKO Informática, todos os sistemas cumprirão suas funções, mas as áreas em que mais houve mudanças certamente implicarão em soluções que se ajustem adequadamente ao cenário. Por exemplo, sistemas de folha de pagamento terão de lidar com as regras de exceção que foram estabelecidas durante a pandemia e posteriormente a isso. Da mesma forma, sistemas fiscais refletirão as regras definidas pelos governos nos diversos níveis para lidar com o cenário econômico inédito que enfrentamos. Empresas que tiveram suas atividades praticamente (ou totalmente) paralisadas e que lidam com produtos perecíveis, terão de administrar perdas e fazer escolhas de forma diferente do que faziam anteriormente quanto ao que embarcar, políticas de preços e entregas a adotar, sendo necessário que os sistemas de gestão viabilizem todas estas possibilidades.

Acertando na escolha
Softwares são adquiridos ou locados com base em vários fatores, e a importância deles pode variar de acordo com as “dores” que a empresa sente. “Mas, de forma geral, deveremos buscar soluções que tenham um retorno do investimento em prazo curto (cerca de um ou dois anos), mas é fundamental que o investimento se pague e gere uma continuidade destes benefícios”, opina Luís Maurício Gardolinski, diretor da Startrade TI para Logística.
A escolha por um software deve passar pelo entendimento do negócio, diz Valmir Colodrão, CEO da Praxio. “Tecnologias especialistas num determinado setor geralmente são mais assertivas, porque nasceram para atender demandas específicas da operação”, alerta. Segundo ele, vale buscar a experiência de fornecedores do setor de atuação da empresa, entender os casos de sucesso e as recomendações de quem trabalha com esse ou aquele produto.
Na opinião de Adenir Grando, diretor comercial da Movtrans Software Logístico, o usuário deve procurar conhecer bem o fornecedor e testar o software antes de implementá-lo. José Paulo Guimarães de Freitas Junior, diretor da MaxiFrota, acrescenta como importante considerar o custo-benefício gerado por cada ferramenta, levando em conta que, além dela, cada gestor terá acompanhamento de um consultor que irá oferecer o serviço adequado para garantir o melhor resultado possível da sua frota.
Diego Araújo da Costa, account executive da Lincros Soluções em Software, diz que tecnologias que ofereçam condições de gestão estratégica, tática e operacional são os melhores caminhos. “A logística é um mar de oportunidades. Quando as tecnologias são muito específicas ou atuam com uma única visão, outras oportunidades de ganho ficam para trás”, expõe.
Há uma gigantesca oferta de softwares. São inúmeros os critérios de validação de softwares, como segurança, continuidade, atualizações constantes, previsão de catástrofes, etc, entretanto, além dos critérios técnicos, Cleber de Castro, diretor do Grupo Vista, entende que as contratantes devem se identificar com a proposta de valor de seu fornecedor de software.
“É comum que profissionais e empresas apresentem seus vastos currículos para impressionar o comprador, mas não basta ser uma empresa ou profissional tradicional, com anos de experiência, sem uma bela proposta de valor para o futuro dos negócios. O desafio é aliar a experiência, a segurança e o conservadorismo a uma transformação digital (e cultural) cada vez mais avassaladora. Sem este alinhamento entre segurança e inovação, não haverá quesitos técnicos que, isoladamente, preencherão as necessidades”, explica.
Segundo Elvio Coelho Lindoso Filho, gerente de marketing da Improtes Soluções e Serviços, a eleição de investimento em soluções deveria partir do planejamento estratégico da empresa e fundamentado na análise de SWOT. “Qualquer investimento isolado das demais questões da empresa tende a não trazer o benefício que ele pode. Feita esta análise e identificados os potenciais riscos para a continuidade do negócio, estabelece-se qual área demandará investimentos com sistemas”, expõe.
Para Ramon Ferreira de Sá, responsável comercial da Generix Group, o importante é verificar se o sistema está em constante evolução para trazer as melhores práticas do mercado todos os anos. “Além disso, a fornecedora deve ter clientes de renome que utilizem a ferramenta, deve conter feedbacks positivos destas empresas e, acima de tudo, atender à necessidade do cliente.”
A escolha precisa levar em consideração diversos fatores, incluindo o porte da empresa, seu setor de atuação e regulamentação, além das regras de governança corporativa, incluindo TI, dentre outros, diz Fernandes, da Benner Sistemas. E ele dá dicas do que não fazer: limitar a escolha somente a questões tecnológicas, tomar uma decisão baseada apenas em menor preço, e/ou deixar de envolver as áreas de negócios que serão impactadas.
A direção da empresa usuária deve se envolver na escolha do software de gestão, não terceirizar. O mais importante é que o software de gestão tenha boa flexibilidade, com razoável recursos de padronização, segurança e auditoria, acrescenta Waller, da Cybersul Softwares de Gestão.
“Pesquise, teste, compare e veja, dentre as opções do mercado, o que melhor serve ao seu negócio e, somente depois disso, comece a entender o preço. Lembre-se: muitas vezes, o barato sai caro e nem sempre o mais caro resolve.” Este é o recado de Oliveira, da ESL.