Cobertura: Carol Gonçalves
Com o propósito de liderar a transformação para um sistema de transporte sustentável, a Scania fechou parceria com a ZEG, empresa do Grupo Capitale Energia, para colocar em operação o primeiro caminhão 100% movido a biometano do país. De um lado, a Scania oferece a tecnologia e, do outro, a ZEG viabiliza a produção do combustível e o abastecimento.
Inédito, o projeto nasce em operação em uma das usinas da São Martinho, um dos maiores grupos sucroalcooleiros do Brasil, que realizará demonstrações utilizando o biometano da ZEG em um veículo Scania. O primeiro caminhão fora de estrada a ser movido a biometano na história do Brasil é um G 410 XT 6×4, que a imprensa de todo o Brasil pôde testar em evento realizado pela montadora nos dia 5 e 6 de setembro último, em Tatuí, interior de São Paulo.
A aposta da Scania para a América Latina está nos veículos movidos a gás natural e/ou biometano, e para tanto a empresa investiu, no último ano, R$ 21 milhões para a industrialização dos novos veículos, que passam a ser produzidos a partir do primeiro trimestre de 2020, na fábrica de São Bernardo do Campo, SP.
“Globalmente, em 2018, vendemos 4.540 veículos comerciais com combustíveis alternativos e híbridos. Sabemos que a Europa está na frente, mas temos o mesmo propósito e vamos buscar parceiros que tenham como visão soluções que permitam transformar o combustível ‘alternativo’ no novo ‘normal’”, conta Christopher Podgorski, presidente e CEO da Scania Latin America.
Segundo ele, a parceria com a ZEG é o exemplo de como é possível fechar essa equação. “O papel dela é fundamental ao viabilizar o acesso a um gás renovável, ou seja, irá fornecer o combustível e entregar para nossos clientes a possibilidade de participarem da mudança para um sistema de transporte sustentável”, afirma.
“A nossa expectativa é contribuir com empresas de logística ou que possuem frotas próprias, para que viabilizem sua transição energética”, complementa Daniel Rossi, CEO da ZEG e sócio-fundador da Capitale Energia.
GasBio
GasBio é o nome dado ao combustível da ZEG, que está sendo produzido no distrito de Sapopemba, em São Mateus, SP, a partir do biogás do Centro de Tratamento de Resíduos Leste. Ele é fabricado naturalmente a partir dos resíduos que são aterrados, que ao longo do tempo vão sofrendo decomposição. Carlos Jacob, diretor de inteligência de negócios da ZEG, explica que o trabalho da empresa é capturar o biogás, canalizá-lo, tirar as impurezas e concentrá-lo a fim de que se torne um gás padrão para combustível segundo a ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. A produção terá início até o final do ano.
Outra forma de produção de biogás é através de resíduos agroindustriais, como vinhaça de cana e da indústria de cítricos. “Basicamente, colocamos os materiais no nosso reator, que tem escala replicável, com uma cultura de bactérias que acelera a decomposição. Então, fazemos o mesmo processo de tratamento e purificação do gás, para que ele atinja o nosso padrão de qualidade”, explica Jacob.
O próximo passo é disponibilizar o GasBio aos consumidores da “Rota do Agronegócio”, que contempla as rodovias que ligam o Centro-Oeste ao Porto de Santos, como a BR-163, a BR-364 e a BR-504. A empresa, inclusive, já desenvolveu parcerias com fornecedores de equipamentos de abastecimento para postos que poderão operar com segurança no processo. Jacob ressalta que o GasBio tem as mesmas propriedades do GNV (Gás Natural Veicular).
O plano é colocar postos de abastecimento nos clientes que optarem por substituir a frota. “Vamos instalar um ponto interno e, rapidamente, devemos ter pontos externos disponíveis nas principais rotas do agronegócio. Na sequência, começaremos a entregar em outros pontos do país”, explica.
Para abastecer esses postos, serão usados os gasodutos e também o transporte rodoviário, com o gás comprimido ou liquefeito. “Temos parceiros com tecnologia de ponta para garantir que o processo seja realizado de forma eficiente e com custo competitivo em relação ao diesel”, conta Jacob.
Até o final do ano, a ZEG vai produzir 30.000 m³ de GasBio por dia. No primeiro semestre serão 90.000 m³, e, até o final de 2021, envolvendo outros projetos e tecnologias, deve chegar a uma produção de 1 milhão de metros cúbicos por dia, com investimento esperado de R$ 500 milhões. “Atingir esse patamar é o equivalente a plantarmos 3 milhões de árvores no país por ano”, frisa.
A ZEG também tem projetos na área de energia solar e de hidrelétricas de pequeno porte. Já para o próximo ano, a empresa viabilizará o primeiro projeto com a tecnologia Flash Dissociation System (FDS™), uma evolução da pirólise, que decompõe tipos de resíduos com alto poder calorífico, como plástico e pneu. “Quando colocados no nosso equipamento, esses materiais sofrem uma dissociação imediata, produzindo um gás combustível para substituir energia elétrica, gás natural ou vapor renovável dentro das indústrias”, adianta.
Custo e desempenho
Com relação ao custo do biometano, depende do local de produção e distribuição. Além disso, o caminhão movido a gás tem custo 30% maior em comparação ao de diesel convencional. “Mas temos a pretensão de trabalhar de forma competitiva com o diesel, oferecendo não apenas uma solução sustentável, mas que também reduza os custo para o usuário”, expõe Jacob.
Para efeito prático, o biometano é totalmente intercambiável com o gás natural fóssil e tem o mesmo desempenho e qualidade. “O que muda é a pegada de carbono na produção, que permite que a redução de emissão no transporte do cliente caia em até 90%, em comparação ao diesel. Cada 300 km rodado com um caminhão abastecido com GasBio equivale a uma árvore plantada”, ressalta.
Viabilidade no custo do transporte do caminhão movido a GNV
Seja GNV ou biometano, a Scania entende que são alternativas viáveis e já prontas para serem utilizadas em veículo comerciais. O GNV já é realidade no país, que também conta com um enorme potencial de biometano. Na Suécia, 90% do transporte público é movido a biometano.
Após quase um ano da parceria entre a Scania e a Citrosuco para demonstração com um caminhão que pode ser abastecido com GNV ou biometano, os resultados são animadores. O veículo rodou apenas com gás natural e, nesta aplicação, em relação a um modelo diesel, houve diminuição de 15% no custo do km rodado proveniente da redução do combustível. A Morada Logística, prestadora de serviços da Citrosuco, cuida de toda a operação logística.
A rota escolhida é entre Matão (sede da Citrosuco) até o Porto de Santos, em São Paulo, para levar suco de laranja para exportação a mais de 100 países. O caminhão pesado de cabine R e 410 cavalos de potência – que já rodou 110.000 km até agora – é da Nova Geração da marca, que começou a ser entregue aos clientes a partir de fevereiro deste ano.
“Nossa solução é comprovadamente mais sustentável do que o diesel. O custo é viável economicamente considerando a realidade atual de preços do combustível e dos altos impostos”, afirma Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania no Brasil.
Ele ressalta, no entanto, que será fundamental o governo federal colocar em prática os sinais que deu sobre seus planos para o gás natural no Brasil. “Por exemplo, as privatizações que provocarão um choque de eficiência no setor via aumento da competitividade e por consequência redução dos custos e possivelmente do preço de venda ao consumidor final. Todo o começo de um novo sistema exige movimentos de todos os lados. Estamos recebendo muitas intenções de compra. Ou seja, comprovando que há demanda consistente. Agora, precisamos de mais oferta.”
Munhoz também destaca que o motor é 100% a gás e biometano, ou mistura de ambos. “Não é conversão. Ele tem garantia de fábrica e tecnologia confiável. Na demonstração com a Citrosuco, o R 410 vem tendo um desempenho consistente e força semelhante ao caminhão a diesel. Além de ser 20% mais silencioso”, completa. Em emissões, a redução de CO2 pode chegar a até 15% na comparação ao diesel.
A demonstração está sendo monitorada pelos Serviços Conectados Scania. Um módulo instalado no caminhão envia todas as informações das viagens, em um acompanhamento detalhado da operação e individualmente por motorista. A Morada Logística pode analisar itens como consumo de combustível, condução mais eficiente e segura e controlar o desgaste desnecessário dos pneus.
De acordo com André Leopoldo e Silva, diretor-geral da Morada Logística, o caminhão Scania é um sucesso entre os motoristas. “Eles gostam muito do conforto, da dirigibilidade, do silêncio e da diferença muito pequena de rendimento comparado ao diesel”, lembra. Sobre as manutenções, nada a reclamar. “Bem no começo da demonstração, houve algumas adaptações no sistema a gás, que eram perfeitamente esperadas. Mas, do ponto de vista do caminhão, só fizemos as manutenções do dia a dia, ou seja, as recomendadas pelo fabricante. Ele nos trouxe alta disponibilidade e performance.”
Segundo Leonardo Menezes, gerente de Teste de Campo da Scania, em se tratando de manutenção, o custo também está muito próximo ao diesel. “Com relação à robustez, podemos falar em disponibilidade: tirando a questão de paradas para manutenção ou participação em feiras, 95% do tempo o caminhão está trabalhando para a Morada, rodando entre 15 e 20 mil quilômetros ao mês. Na operação de Matão a Santos, são feitos dois abastecimentos”, expõe.
Cada caminhão possui oito tanques de 118 litros, totalizando 236 m³ de capacidade volumétrica de gás, com autonomia entre 450 e 550 quilômetros, dependendo da temperatura ambiente de abastecimento. Também é possível abastecer com gás liquefeito, chegando a 1.550 quilômetros de autonomia.
Em outubro, na Fenatran, a Scania começará a receber as intenções de compra. Em março, iniciará a produção e, em abril, a montadora entregará os veículos.
Scania recebe mais de 10 mil encomendas da Nova Geração
A Scania já recebeu mais de 10 mil encomendas da Nova Geração de caminhões, após sete meses de início oficial das vendas. Com isso, alterou sua projeção de crescimento no mercado de caminhões em que atua, acima de 16 t (semipesados e pesados), de 10% a 20% para um volume que ficará entre 40 a 50% superior a 2018.
“A Nova Geração nos enche de orgulho. A nossa promessa de economia de combustível de até 12% em comparação com a geração anterior já está sendo ultrapassada por inúmeros clientes. Com apenas sete meses de vendas, já temos o R 450 como segundo caminhão mais vendido de toda a indústria e da categoria dos pesados”, afirma Roberto Barral, vice-presidente das Operações Comerciais da montadora no Brasil.
De janeiro a agosto de 2019, a Scania emplacou 8.393 caminhões no mercado acima de 16 t. Alta de 55,6% em comparação às 5.393 unidades do mesmo período do ano passado. Um desempenho superior ao mercado acima de 16 t que registrou 47.918 unidades (contra 31.564) e acréscimo de 51,8%. A participação foi de 17,5%.
Nos pesados, a Scania emplacou 8.308 caminhões. Um aumento de 67,9% em comparação às 4.949 unidades de 2018. A participação subiu de 23,9% para 24,8%. A indústria computou 33.472 unidades ante as 20.742 do exercício anterior, num crescimento de 61,4%.
Os destaques são os modelos pesados R 450 (3.328 unidades emplacadas e 9% de participação) e R 500 (1.690 unidades e 5% de participação).