A palavra da vez no Brasil é “crise”. Todos os setores estão sofrendo o reflexo da atual situação econômica. No segmento de peças de reposição para empilhadeiras, ocorre algo interessante, como mostra Ruy Piazza Filho, diretor da Vinnig Componentes Eletrônicos. No primeiro momento de uma crise, o mercado de peças apresenta bons resultados, pois as empresas param de investir em equipamentos novos e recuperam os velhos para manter suas operações. “No entanto, se ela for longa, como a atual, numa segunda etapa, as companhias não precisam mais de todas as empilhadeiras funcionando devido à diminuição da demanda. Então, passam a operar apenas com uma parte delas, usando as paradas como almoxarifado de peças, para repor as que ainda estão operando. Nessa situação, o mercado de peças começa a sofrer severamente o resultado da crise. Hoje, estamos nesta segunda fase. Em 2015, as vendas tiveram uma redução de cerca de 30% em relação a 2014, ano que consideramos normal”, explica.
No caso da Still Brasil, quem conta é Luiz Claudio Cintra Soncini, gerente de pós-vendas. No final de 2014, a empresa já esperava a queda no faturamento com a venda de máquinas novas. Na contramão desse cenário estava o mercado de peças e serviços, com perspectivas muito positivas para 2015. Mas o cenário econômico se agravou ainda mais, o que acabou trazendo redução no ritmo de operação das indústrias, com paralisações de linhas de produção, cancelamento de turnos de trabalho e queda acentuada no volume de movimentação de material. Com isso, as metas de venda de peças e serviços foram revistas para baixo em relação ao budget 2015, planejado ainda em 2014. “Ainda assim, conseguimos resultados melhores que em 2014, com aumento do volume da ordem de 15% para o pós-venda. Como com toda a crise vem o aprendizado, aproveitamos o desafio para reestruturar nosso departamento e lançar ferramentas para auxiliar os clientes na operação dos equipamentos, como sistemas de segurança e monitoramento de máquinas”, revela.
Na Cam System Empilhadeiras, os resultados também foram bons no ano passado. “Completamos 15 anos e aproveitamos para estreitar o relacionamento com nossos clientes e fortalecer a disponibilidade de módulos eletrônicos recondicionados na base de troca, pois uma empilhadeira parada gera altos custos”, conta Roberto Carmello, responsável técnico.
Mesmo cenário para a Crown Lift Trucks do Brasil, que teve um 2015 muito positivo. A companhia cresceu consideravelmente no primeiro semestre, embora no segundo, esse desempenho tenha sido mais moderado. “Isso ocorreu, principalmente, devido à redução no volume de movimentação de nossos clientes e uma consequente revisão nos volumes de compras”, explica o supervisor de peças, Cleber Martoni.
Na TVH-Dinamica, o mercado de componentes para a linha industrial registrou desempenho positivo devido à constante ampliação do portfólio de produtos. “Um dos lançamentos mais importantes de 2015 foi o regenerador de baterias Energic Replus, que realiza o processo em, no máximo, 42 horas, contra 10 dias do processo manual”, comemora o diretor geral, Marco Antônio Augusto.
Tiago Rios, diretor comercial da Movilog Comércio e Representação de Máquinas, observa que muitos clientes cancelaram contratos de manutenção preventiva para reduzir gastos no curto prazo, porém, alerta que provavelmente sentirão os reflexos e enfrentarão problemas no futuro com maiores desgastes e defeitos nos equipamentos. “Por outro lado, também notamos que as empresas não apostaram em novas aquisições, o que nos garantiu vendas 21,15% superiores ao ano de 2014 e, mesmo com a diminuição na prestação de serviços, em função dos cancelamentos de contratos preventivos, consideramos que o ano foi razoável”, diz.
Na venda de peças para equipamentos portuários, a Brasmaq Portuária obteve crescimento de 28% em relação a 2014. No entanto, Alexandre Pereira Wohnrath, gerente de vendas, alerta que em razão da constante desvalorização da moeda nacional, a aquisição de peças de reposição de origem exterior, aplicada em grande parte dos equipamentos portuários, sofrerá elevações de custos catastróficas.
Também entra nesse ponto Rodrigo de Azevedo Cavalcanti, diretor de assistência técnica da Tolentino Engenharia. “A flutuação tremenda do câmbio gerou instabilidade nos preços das peças importadas e retração da economia, diminuindo a quantidade de capital disponível no mercado, principalmente no ramo de peças originais, que são mais caras.”
Na Linde Material Handling, a esperança era que parte dos clientes investisse em reformas da frota de empilhadeiras, o que aqueceria o mercado de vendas de peças, mas, segundo Alexandre Gonçalves, coordenador de vendas de peças de reposição para empilhadeiras elétricas e a combustão, não foi isso que aconteceu.
A BYD Empilhadeiras começou a atuar no mercado em dezembro de 2015. Segundo Henrique Antunes, gerente nacional de vendas, o desaquecimento e a crise na economia podem fazer as empresas adiarem os planos de renovação de frota, o que tende a aumentar a demanda por peças.
Finalizando essa análise, Aldo da Silva Neves, diretor da CMH, faz um resumo de 2015 em todos os aspectos. “Foi um ano de grandes desafios trazidos pelo aprofundamento da recessão econômica e da estagflação que vem minando a economia brasileira ao longo dos últimos anos, tendo sido piorada pelos substanciais impactos negativos da corrupção investigada pela polícia federal brasileira no âmbito da Operação Lava Jato, os impactos causados pelo abalo na Petrobras e em grandes empresas empreiteiras, com sérios reflexos nas obras de infraestrutura e na construção civil, crise política, crise moral e grande perda de credibilidade do governo, particularmente dos poderes Executivo e Legislativo, sendo estes os principais vetores da crise econômica brasileira”, elenca.
Neves também acrescenta a aceleração da inflação, que excedeu o teto da meta do Banco Central do Brasil, tendo o IPCA fechado em 10,67% versus 6,5% o teto da meta, escalada vertiginosa da taxa de câmbio real/dólar, configurando maxidesvalorização cambial, desemprego alarmante, perda do grau de investimento pelo Brasil, passando a grau especulativo, aumento das incertezas na economia e dúvidas de investidores brasileiros e estrangeiros, queda das importações e das exportações, queda continuada da indústria brasileira de transformação, ressaltando-se uma redução do PIB estimada em aproximadamente 4% em 2015, já sobre uma base de comparação bastante baixa.
De acordo com ele, o segmento de peças para empilhadeiras não foi uma ilha de prosperidade neste ambiente de negócios ainda mais hostil do que o usualmente experimentado. Em meio aos desafios citados, Neves aponta que houve aumento da concorrência nos anos recentes e desaparecimento de algumas empresas do segmento de empilhadeiras/equipamentos de construção e peças de reposição, certo grau de concentração no segmento de peças com uma atuação mais forte de empresas estrangeiras e enfraquecimento das nacionais.
“Estas movimentações provocaram alterações na participação de cada agente de mercado, com perdas significativas de algumas empresas, além do impacto da economia mais fraca e o aumento das incertezas, com poucas perspectivas de reação no curto prazo”, acrescenta.
E agora?
Para este ano, a palavra da vez terá de ser outra, talvez “persistência” ou “adaptação”, para que as empresas possam continuar atuando neste mercado. Piazza, da Vinnig, diz que ainda não há solução, nem política, tampouco econômica, para a crise do Brasil e, portanto, é muito prematuro estimar uma recuperação neste momento. “Por enquanto, sugerimos muita cautela e freio nos custos, para mantermos nossas organizações saudáveis”, diz.
A previsão de Rios, da Movilog, não é nada otimista. Segundo ele, 2016 será um ano um pouco mais complicado para venda peças de empilhadeiras, pois será fortemente influenciado pelo cenário econômico. Muitos componentes são importados e, com as constantes variações no câmbio, será difícil fazer qualquer planejamento de custos.
“Devido aos estoques antigos, muitas companhias ainda conseguiam manter o câmbio, porém, com o fim dos estoques, precisam fazer a reposição, e a variação cambial será a grande vilã. Neste cenário não há o que fazer, os custos terão de ser repassados para o consumidor final. Mesmo nas peças de fabricação nacional, enfrentamos os problemas da dificuldade de investimentos e principalmente da inflação, que impactam diretamente na produção e no preço final do produto, tornando os desafios para 2016 ainda maiores”, acredita.
Por conta disso, os esforços da Movilog estão voltados para o aperfeiçoamento e a rapidez do atendimento. “Estamos implantando um novo sistema de controle de peças e gerenciamento de frotas, que nos permitirá melhorar cada vez mais os níveis dos serviços prestados.”
Para Carmello, da Cam System, a crise geopolítica e socioeconômica que engoliu o Brasil dificulta qualquer previsão para 2016, e a turbulência de 2015 continuará afetando o mercado. “Com o cenário desfavorável, o crescimento industrial e econômico passa a depender da criatividade do empreendedor. Prefiro pensar que o único ‘fator’ que pode prejudicar os negócios é o pessimismo.”
Essa é também a estratégia da Linde, de acordo com Gonçalves. A empresa aposta em entender melhor as necessidades de clientes, otimizando processos e ofertando soluções em pós-vendas que possam trazer redução de custo. “Acordos comerciais ou contratos de fornecimentos serão o foco para fomentarmos crescimento neste setor.”
De acordo com Fábio Pedrão, diretor executivo da Retrak Comércio e Representação de Máquinas, as mudanças em 2016 não serão significativas se comparadas ao ano anterior. “O envelhecimento da frota tende a aumentar o número de itens vendidos”, aposta.
Na opinião de Marcelo Ferreira, gerente corporativo de peças da Pesa, este ano não será melhor que 2015. “Quando falamos com nossos clientes, o cenário não melhorou em diversas áreas de atuação. Os mercados que em 2016 podem ter evolução são aqueles em que a linha de empilhadeiras é limitada, como o agronegócio e empresas florestais.”
Sergio Martins, gerente comercial da Tecnomac Brazhyu Equipamentos, pensa da mesma forma. “O quadro vai persistir em quase todo este ano, porém com expectativas de melhora, aguardando uma atitude dos responsáveis por mudar este cenário.”
Na avaliação do diretor da Trax Rental do Brasil, Antonio Carlos Rubino, os preços de peças e componentes continuarão altos pela influência do câmbio do euro e do dólar e também pela recomposição de margens. “Estamos negociando junto aos principais fornecedores o aumento no prazo de pagamento para melhora do ‘cash flow’ interno”, revela.
Soncini, da Still, observa que, com a queda de investimentos em relação a 2015, haverá um grande desafio para conquistar novos clientes frente à concorrência acirrada que se apresenta. “Apesar deste cenário de fim de festa, acreditamos que temos um potencial enorme a alcançar, aumentando nossa base instalada de equipamentos Still e multimarcas atendidos pelo pós-venda.”
Em sua experiência de 20 anos na área, ele sempre escutou que “cliente que não renova sua frota precisa mantê-la operacional com peças e assistência técnica”. Segundo ele, os investimentos que não foram efetuados em 2015 terão que ser feitos neste ano para manter os equipamentos operacionais. “Existem segmentos de mercado que despontam como alternativas de vendas, vamos atrás deles! Deveremos intensificar a oferta de contratos de manutenção de máquinas, o que traz consigo a fidelidade do cliente na aquisição de peças.”
Augusto, da TVH-Dinamica também pensa assim. Há segmentos que se mantêm estáveis, que sempre precisarão realizar a manutenção das empilhadeiras e equipamentos. “São nestes que concentraremos nossos esforços”, expõe.
Cavalcanti, da Tolentino Engenharia, aposta em alguns fatos que podem influenciar no desempenho positivo do setor, como a retomada do crescimento caso a situação política seja resolvida; a simplificação da tributação com unificação dos entendimentos interestaduais a respeito de peças que devem ter substituição tributária; a estabilização ou queda do euro e do dólar; eventuais incentivos ao setor dados pelo governo; e investimentos em grandes operações logísticas, como, no caso de Pernambuco, o HUB da Azul, que foi anunciado em janeiro de 2016 com previsão de início de atividades em março. Pelo lado das influencias negativas, ele cita a continuidade de políticas tributárias excessivas e confusas, além do agravo da situação econômica.
“Acreditamos que a estabilização do dólar, a redução dos juros, a necessária retomada da indústria e do comércio são fatores que irão influenciar o cenário econômico como um todo e certamente afetarão o segmento”, declara Martoni, da Crown.
Na visão de Érica Martins, do setor de vendas de peças da Equipo Log Comércio e Serviços, a previsão econômica para 2016 é de retração de investimentos, mantendo aquecido o mercado de peças de reposição e serviços especializados de mão de obra de manutenção. “Negativamente ressalto a instabilidade do câmbio, que pode elevar os custos de importação e consequentemente para o consumidor final.”
De acordo com Gonçalves, da Linde, a estabilidade e a clareza no sistema político-econômico, assim como um planejamento estratégico de longo prazo por parte do governo e melhores condições de financiamentos trariam melhores expectativas de investimentos, aceleração da economia, movimentações de máquinas e consequentemente maior consumo em peças de reposição.
“Além disso, a estabilidade da moeda estrangeira é importante quando estamos falando na comercialização de peças importadas. Sem dúvida, diante desse cenário, nos confrontamos com a necessidade e o desafio de desenvolver parceiros fornecedores nacionais, mantendo a mesma qualidade das peças importadas”, expõe.
O gerente comercial da Zuba Comércio de Máquinas e Equipamentos Industriais, Marcelo de França Yoem, acredita que em 2016 o mercado estará aquecido com o aumento das manutenções, já que a tendência é o não investimento em nova frota. Entretanto, devido a essa situação, pode ocorrer a diminuição de peças sobressalentes.
Neves, da CMH, considera que o sucesso ou fracasso de cada empresa do setor de peças dependerá muito mais de sua própria capacidade camaleônica de ação e reação do que de uma melhora da economia ou dos mercados atendidos. “Continua nas nuvens o custo do dinheiro e permanece a retração dos investimentos. Todavia, o mercado não para, pode diminuir o ritmo, a intensidade e o tamanho, mas não para! Cabe aos agentes entenderem isso e buscarem se adequar às condições mutantes. Fatos que influenciarão o desempenho neste ano são a concorrência, o câmbio (para peças importadas), o custo do dinheiro, a disponibilidade de crédito e a decisão dos clientes e prospects em reparar seus equipamentos preventiva e corretivamente”, completa Neves.
Como a Brasmaq atua no setor portuário, as perspectivas são extremamente otimistas para este ano, segundo Wohnrath, pois esse mercado está em plena expansão, em todos seus segmentos: área física, novos campos de atuação, equipamentos, mão de obra e especialidades específicas, entre outras. Para ele, o nascimento de novos portos, como o Terminal Portuário Barra do Rio, em Itajaí, SC, vai influenciar positivamente o segmento. No entanto, a alta cambial acaba estimulando o desenvolvimento de peças paralelas de baixa qualidade e de procedências duvidosas.
Mercado
A seguir, as empresas entrevistadas falam sobre a procedência dos produtos oferecidos.
CMH (Fone: 19 3778.1300): peças das melhores procedências e/ou originais, provindas de vários países e fornecedores, como Brasil, Estados Unidos, Japão, China, Taiwan, Alemanha, Itália e Coreia do Sul.
Brasmaq Portuária (Fone: 47 3348.2416): originais e desenvolvidas de primeiríssima linha, vindas da Ásia, Europa e América.
BYD Empilhadeiras (Fone: 19 3514.2550): originais importadas.
Cam System (Fone: 19 3849.7606): preferencialmente peças originais, oriundas do mundo todo, inclusive de fornecedores nacionais.
Crown (Fone: 11 4585.4040): genuínas e importadas das plantas nos Estados Unidos e Europa. Oitenta e cinco por cento dos componentes contidos nos equipamentos são fabricados pela Crown. Os motores, por exemplo, são fabricados especificamente para o equipamento da marca, respeitando detalhes e necessidades específicas do projeto.
Linde (Fone: 11 3604.4755): peças genuínas, de qualidade homologada e na maioria de origem europeia.
Equipo Log (Fone: 11 4272.0933): originais, para manter a integridade do fabricante. Para itens que não sofrem influência na produtividade da empilhadeira, também oferece peças nacionais. Um exemplo é o revestimento de rodas, no qual o fornecedor usa os padrões de matéria-prima indicados pelo fabricante do equipamento.
Movilog (Fone: 11 2207.4547): peças originais (nacionais e importadas), porém, também comercializa itens feitos sob medida conforme amostras, por exemplo, eixos, tubos e roletes.
Pesa (Fone: 41 2103.2457): originais, pois é o revendedor autorizado para o Paraná da marca Hyster. Faz parte do grupo da Paraná Equipamentos a Curipeças, empresa especializada em artigos usados.
Retrak (Fone: 11 2431.6464): peças originais Still, pois é dealer da fabricante no Brasil. A maioria é nacional, e pequena parte vem da matriz na Alemanha.
Still Brasil (Fone: 11 4066.8157): peças originais, oriundas da matriz, na Alemanha, ou de parcerias com fornecedores nacionais (óleos e pneus, por exemplo) e internacionais (rodas de Vulkolan para uso em máquinas elétricas).
Tecnomac Brazhyu (Fone: 12 3909.4400): originais Hyundai, oriundas da Coreia.
Tolentino Engenharia (Fone: 81 3441.5629): originais da marca Still.
Trax Rental (Fone: 11 4468.7777): em casos que seja possível a substituição de peças originais, a empresa fornece marcas alternativas para viabilizar os custos
sem perda de qualidade dos serviços.
TVH-Dinamica (Fone: 19 3045.4251): possui ampla linha de peças e acessórios com as marcas próprias TotalSource, TotalLifter e CAM, desenvolvidas na matriz do Grupo TVH, na Bélgica.
Vinnig (Fone: 21 3979.0283): como distribuidora da Curtis Instruments, fornece peças originais fabricadas pela empresa, além de contatores, chaves de emergência e conectores de baterias de outras procedências com a marca Vinnig, com a autorização da Curtis.
Zuba (Fone: 11 4719.9099): originais produzidas na China. Não trabalha com paralelas.