Perdas agrícolas: impactos econômicos e sociais

Os desafios e soluções para as perdas de produtos e alimentos tem se tornado cada vez mais frequentes em debates e eventos realizados no setor agrícola. Além de ser um problema econômico, as perdas observadas nos diferentes processos que caracterizam a cadeia de distribuição no agronegócio têm sido discutidas também no âmbito social, uma vez que impactam no mundo como um todo.

Seguindo esta importante tendência e tendo como tema “Perdas Físicas na Logística Agroindustrial”, aconteceu no último dia 26 de março o 15º SILA – Seminário Internacional em Logística Agroindustrial, evento realizado pelo Grupo ESALQ-LOG (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial). O seminário teve como objetivo discutir as principais causas das perdas agrícolas no país, oferecendo palestras com profissionais dos mais variados setores, que puderam apresentar sua experiência com os problemas encontrados nos diferentes processos de distribuição de alimentos e indicar sugestões e caminhos para o futuro.

Entre os palestrantes do evento estavam presentes nomes como o representante da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) no Brasil, Alan Bojanic; o professor da Unicamp e especialista em segurança alimentar, Walter Belik; a engenheira e representante do Ceagesp, Anita Gutierrez; o pesquisador da Embrapa, Gilmar Henz; a superintendente de armazenagem da Conab, Deise Menezes Ribeiro Fassio e o coordenador do Grupo ESALQ-LOG, Thiago Péra, além de outros profissionais da Nestlé, Rede Oba Hortifruti, Teg Portos e GBM Logística. O coordenador geral e fundador do ESALQ-LOG, José Vicente Caixeta Filho, também participou do evento, ressaltando a importância de reunir profissionais para a discussão de temas tão importantes para o país, uma vez que cada um pode contribuir para entender melhor e também auxiliar na resolução de tais problemas.

Segundo o PhD e representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, tais perdas influenciam em diversos segmentos, pois impactam na sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduzem a disponibilidade local e mundial de alimentos, influenciam negativamente na nutrição e na saúde, diminuem a renda dos produtores, aumentam preços para os consumidores e afetam o meio ambiente pelo uso ineficiente dos recursos naturais. “Não quer dizer que reduzindo as perdas vamos solucionar o problema da fome, porque mesmo que façamos um grande esforço de redução, o grande problema da fome é o acesso ao alimento”. O especialista destacou ainda a importância de existência e da manutenção dos bancos de alimentos, responsáveis por levar mantimentos à população carente.

Durante o seminário, também foram apresentadas as diferentes implicações que as perdas podem causar, uma vez que seu impacto é muito maior do que se observa. “Todos sabem os impactos econômicos e sociais que essas perdas tem, mas ao mesmo tempo é um assunto muito mais complexo, que envolve a agricultura, envolve a alimentação, nutrição, segurança alimentar, aspectos sociais e também o setor privado, além da logística e meio ambiente”, ressalta o pesquisador da Embrapa, Gilmar Henz.

Nesse sentido, mudanças têm sido realizadas para que cada vez mais as perdas sejam mitigadas, gerando mais economia e sustentabilidade. De acordo com a superintendente de armazenagem da Conab, Deise Menezes Ribeiro Fassio, foram criadas novas regras que regem os armazéns destinados a servir terceiros ou ao governo, que trouxeram qualificação tanto para a operação de armazenagem como para sua própria estrutura, resultando na redução de perdas inclusive nos processos logísticos devido à localização dos armazéns.

Com um público de cerca de 100 convidados, o seminário também contou com a presença do diretor da USP- Esalq, Luiz Gustavo Nussio, que participou da abertura do evento. “Dediquei praticamente toda a minha carreira ao controle de perdas, mesmo que na área de alimentos para animais. Muito do que fazemos em vários departamentos (na Esalq) é estabelecer estratégias de controle de perdas. Temos absoluta convicção que eventos dessa natureza são fundamentais para criar esse movimento dentro da universidade”, completa Nussio.