Para atualizar a abrangência da atuação dos Operadores Logísticos nas cadeias de suprimento, produção e distribuição dos diversos segmentos econômicos nos quais atuam, a ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos, em parceria com o Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da FDC – Fundação Dom Cabral, divulgou os resultados da edição 2020 da pesquisa “Perfil dos Operadores Logísticos no Brasil”.
O levantamento abrangeu um universo total de 275 empresas e revelou uma Receita Operacional Bruta (ROB) total de R$ 100,8 bilhões anuais, estimando um faturamento médio de R$ 366 milhões, por empresa.
Na comparação com a primeira versão da pesquisa, que é bienal, divulgada em dezembro de 2018, participaram 269 organizações, sendo o total da ROB anual de R$ 81,4 bilhões, o que representava um faturamento médio de R$ 302,6 milhões, por empresa.
“De 2018 para 2020 tivemos um aumento de 23,8% na ROB, o que mostra que o setor dos Operadores Logísticos é um dos que mais crescem no Brasil. Também é expressivo o aumento do faturamento médio por empresa, que é de 21%, o que demonstra uma participação cada vez mais dilatada no Produto Interno Bruto”, diz Paulo Resende, professor de logística, transporte e planejamento de operações e Supply Chain, e coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da FDC. Também responsável pela Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes, ele coordenou o estudo sobre os OLs.
A pesquisa revelou, ainda, a grande variedade de mercados de atuação dos Operadores Logísticos no Brasil. Desde comércio eletrônico, serviços bancários até as áreas de commodities, petróleo e gás. Um dos setores em crescimento é o de e-commerce, colocando o Brasil em consonância com a tendência mundial de o OL se aproximar mais do mercado voltado ao consumidor final. Das empresas pesquisadas, 25,64% já operam no segmento de comércio eletrônico e 28,21% não operam ainda, mas têm planos de atuar nos próximos dois anos.
Além disso, o setor de OL é um dos que mais empregam nos dias de hoje, gerando aproximadamente 1,5 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos. Segundo o levantamento, os maiores investimentos das empresas são em softwares de gestão de armazenagem, de rastreamento, roteirização e gestão administrativa. O menor investimento identificado é em inovação, pesquisa e desenvolvimento.
Já os maiores custos logísticos estão em armazenagem de produto acabado (somente custo mobiliário) e distribuição urbana de produtos acabados (última milha). Para reduzir os custos, as empresas têm investido na integração logística com o cliente, que gera fluidez de informações na cadeia. A terceirização de frota também se mostra importante como redução de mão de obra.
Sobre qual a relevância de certas ações para que a retomada do crescimento pós-crise possa ocorrer, 61,76% disseram que são fundamentais as políticas do governo para crescimento econômico. E 60,61% responderam que a reforma tributária também é fundamental. Vale ressaltar que como são questões de múltipla escolha, a soma das porcentagens é maior que 100%.
Outro fator interessante trazido pelo estudo é quanto ao recolhimento na carga tributária. O setor de OL arrecada hoje R$ 14,7 bilhões em tributos e R$ 11,5 bilhões em encargos trabalhistas, o que não é pouco, contribuindo muito para o erário. “Isso vê-se agravado, de certa forma, pelo fato de os Operadores não terem uma Classificação Nacional de Atividade Econômica própria, estando sujeitos a uma sobreposição de tributação e encargos em função das diversas atividades que executam. Por isso, é fundamental a regulamentação da atividade de Operador Logístico para que a bitributação deixe de acontecer”, afirma Resende.
Regulamentação
A atualização do estudo coincide com um avanço no Projeto de Lei nº 3.757/2020, que prevê a regulamentação da atividade dos Operadores Logísticos e modernização da lei de armazenagem geral, o Decreto nº 1.102/1903. A tramitação do PL já começou na Câmara dos Deputados Federais, sob a responsabilidade do deputado federal Hugo Leal (PSD/RJ).
“Como trata-se de um setor muito novo e por ser um integrador de várias atividades, tendo uma ação transversal em vários segmentos da logística, o marco regulatório se faz mister para que não haja intervalos ‘cinzentos’ de legislação. Por utilizarmos várias CNAEs, o marco regulatório trará transparência, clareza de interpretação e, assim, stakeholders, órgãos anuentes, intervenientes e reguladores poderão ter a mesma leitura do nosso setor, das suas atividades e responsabilidades”, afirma o diretor presidente e CEO da ABOL, Cesar Meireles.
Discussão
A pesquisa foi divulgada no último dia 31 de julho, por meio de um webinar, que contou com a participação de alguns especialistas, além de Meireles, da ABOL, e Resende, do FDC. Entre eles, o especialista em logística Prof. Paulo Roberto Guedes, que é conselheiro e fundador da ABOL.
Na ocasião, Guedes comentou que o mercado precisa investir mais em inovação, se ela é tão importante como o levantamento apresentou. “Todo mundo sabe que aumento de produtividade está diretamente ligado a investimento em inovação. E inovação também está ligada a capacitação de mão de obra. A pesquisa mostrou que a contratação de mão de obra qualificada e o investimento em treinamento são preocupações muito pequenas. Não adianta investir em máquinas e tecnologia se não melhorarmos as pessoas.”
Outro assunto levantado por Guedes foi o custo elevado direcionado para seguros. “Na medida em que as empresas cuidarem mais do gerenciamento de riscos, as apólices de seguro terão um custo bem menor. Temos de evitar que os problemas ocorram”, ressaltou.
Por fim, o especialista em logística chamou a atenção para a falta de investimento em sustentabilidade. “Não vejo muita preocupação em combater a emissão de CO2 através de treinamento dos motoristas, de equipamentos e combustíveis menos poluidores.”
Para Resende, da FDC, é preciso levar essa pesquisa para dentro dos OLs. “Sejam multiplicadores desses resultados. Com certeza há pessoas dentro de sua empresa capazes de analisar esses números e levantar questões importantes que precisam ser trabalhadas.”
Mais informações estão no site da ABOL (www.abolbrasil.org.br). Para assistir ao webinar, acesse o canal ABOL Brasil, do You Tube.