“Pesquisa Visão Gestão de Fretes” revela desafios na relação entre embarcador e transportador

Falta comunicação e integração entre embarcador e transportador. Estes foram os principais problemas identificados após análise dos dados da terceira edição da “Pesquisa Visão Gestão de Fretes Brasil”. Organizada pela GKO Informática (Fone: 21 2533.3503), especializada em soluções de base tecnológica para a área de logística com foco na gestão de fretes, em parceria com a RC Sollis (Fone: 11 2306.0811), consultoria dedicada à gestão e ao desenvolvimento de negócios em logística, o estudo traz um panorama com foco técnico do setor de transportes no ano de 2017. Ele mostra que os embarcadores estão cada vez mais especializados e exigentes, e que, para as transportadoras, além da diminuição da demanda, os desafios e os riscos aumentaram.
Ricardo Gorodovits, diretor comercial da GKO, e Celso Queiroz, sócio-fundador na RC Sollis, apresentaram os resultados da pesquisa no dia 20 de junho último, em um evento em São Paulo, abrindo espaço para uma discussão produtiva a respeito dos dados.
O estudo contou com o apoio da Abralog – Associação Brasileira de Logística, do Setcesp – Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo e Região e do IPTC – Instituto Paulista de Transporte de Cargas.

Números dos embarcadores
O universo pesquisado de embarcadores envolveu empresas que representaram 230 bilhões de reais em mercadorias expedidas em 2017, que pagaram um total de 3,8 bilhões de reais em fretes (uma redução de 16% no pagamento de fretes se comparado a 2016), e que movimentaram 10 milhões de toneladas em cargas por ano.
Os dados revelaram que os atributos mais desejados pelos embarcadores em 2017 mudaram de importância com relação à pesquisa de 2015. Em 2015, prazo de entrega foi apontado por 38% dos entrevistados, seguido de preço, com 16%. Em 2017, preço conquistou a primeira colocação, com 36%, deixando prazo de entrega em segundo, com 22%. “Isso denota que as escolhas acontecem muito em razão do preço. Ele sempre foi importante, mas passou a ser mais”, expôs Gorodovits.
O maior problema apontado pelos embarcadores com relação às transportadoras foi confiabilidade de prazo de entrega, com 60%, bem próximo dos resultados de 2015 (56%) e 2016 (63%).
Já a porcentagem de embarcadores que indicaram como problema a informação sobre posicionamento de carga diminuiu de 64%, em 2015, para 54%, em 2017. Segundo os palestrantes, a tecnologia foi responsável por essa redução, embora muitas transportadoras ainda utilizem comprovante de entrega em papel, que causa diversos gargalos. A pesquisa revelou que 88% têm dificuldades relativas ao canhoto físico. “Precisamos eliminar isso”, apontou Gorodovits.
É de se notar que o problema da alta sinistralidade (roubo e avaria) deu um salto. Em 2015, representou 18% das opiniões, e, em 2017, 32%. Para o diretor comercial da GKO, esse aumento está ligado à corrupção do país e gera altos custos para o sistema.

Números dos transportadores
Também foram consultadas transportadoras nacionais e regionais que movimentaram 4 milhões de toneladas de cargas no ano e foram responsáveis pela entrega de 12 milhões em mercadorias em 2017. A predominância foi de carga fracionada (86%), e o segmento com maior número de empresas atuantes é alimentos e bebidas, com 52%, seguindo de autopeças/automotivo e distribuidores/atacadistas, com 48% cada um.
A pesquisa revelou que 77% das transportadoras têm menos de 50% de seu faturamento sob contrato formal e 40% delas têm menos de 10% de sua receita com contrato formal, evidenciando a informalidade do mercado.
Questionadas sobre o nível de serviço oferecido aos clientes sob o prisma da informação, 77% das transportadoras o avaliaram como bom, muito bom ou ótimo, contrastando com o dado já exposto, que mostrou que informação é um dos maiores problemas que os embarcadores enfrentam com relação às transportadoras.
“O relacionamento entre o embarcador e o transportador é imaturo. Cada um analisa a mesma situação de formas diferentes. A relação é de pede-pede, e não ganha-ganha, é preciso amadurecer”, destacou Queiroz, acrescentando que o caminho é terceirizar o risco. Os participantes do encontro comentaram sobre a problema da falta de compartilhamento das informações entre os players e como isso interfere na efetividade de todo o processo.

Conclusões e macrotendências
As conclusões da Pesquisa estão divididas em duas partes: a primeira mostra uma fotografia do mercado, destacando os ambientes operacional, estrutural e econômico em que se inserem os transportes e, na segunda parte, destacam-se as macrotendências. No campo operacional, observa-se que, graças à conveniência de compras ofertada ao consumidor, os embarcadores estão operando em múltiplos canais de entrega (Omnichannel), aumentando a complexidade da distribuição, que apresenta maior capilaridade, problemas e restrições de toda a ordem no tráfego em cidades. Já quando se fala em chegar a locais mais remotos, se exige que as transportadoras sejam especialistas em cada canal.
O ambiente estrutural mostra problemas crônicos, como a malha viária e a segurança pública precárias, mão de obra com baixa especialização, burocracia que incide no custo direto da operação (como impostos, licenças de operação, etc.), incluindo rubricas de custo atreladas ao dólar. No plano econômico, o cenário se mostra mais negativo com a crise econômica, que não obtém resposta mais contundente, custos elevados de elementos de transportes (como derivados de petróleo e veículos) e a queda da demanda por cargas.
Alguns dados mostram que do lado do embarcador houve avanços positivos que podem transformar a cadeia de transportes no sentido de ganho de especialização, melhorias no nível de serviço, adoção de tecnologias ou avanço a um outro nível. Entre os pontos fortes identificados estão o aumento da inteligência do embarcador caracterizada pela melhoria de seu time logístico, crescimento do nível de capacidade de negociação e cobrança do embarcador e aumento da terceirização dos riscos para o transportador.
A pesquisa detectou, também, a opção dos embarcadores por diminuir o número de Centros de Distribuição, como caminho para redução de custos. “Isso gera um impacto nas transportadoras de caráter mais regional, além de implicar em uma de duas estratégias: embarques mais fracionados ou, para evitar este fracionamento, um planejamento de entregas menos agressivo, refletindo em aumento do estoque nos destinatários”, explicou Gorodovits. Segundo o executivo, esse cenário cria um impasse, já que fracionamento de cargas implica aumento nos custos de transporte e o espaçamento das entregas vai contra a demanda do mercado. “Novamente aqui constatamos o aperto nas margens das transportadoras”, observou.
Neste contexto, as transportadoras precisarão fazer uso de mais de um modal de transporte, profissionalizar seu time, ofertar serviços mais próximos dos drives dos embarcadores e promover a melhoria do nível de serviço, que foi avaliada como abaixo do que é vendido. Um desafio e tanto a ser superado é: conciliar custos do frete (a aumentar) com a expectativa do embarcador por reduzir prazos de entrega, com estoques menores.
No campo comercial, a pesquisa detectou que 89% dos embarcadores consultados reduziram a conta frete; na outra ponta, a dos transportadores, 33% apontaram não ter feito qualquer reajuste. A perspectiva de preços para 2018 é de aumento de risco da operação, pois os embarcadores acreditam que pagam caro pela operação e os transportadores operam com preços abaixo do limite de ruptura. Somado a isso, os embarcadores estão lançando mão do uso de Operadores Logísticos, esvaziando a demanda das transportadoras, que por sua vez não têm sido procuradas pelos OLs para a prestação de serviços.
Como conclusão, a “Pesquisa Visão Gestão de Fretes Brasil” aponta que não há indicações de que, em 2018, haverá uma mudança significativa no cenário. Há risco real de ruptura na prestação de serviço, pois muitos transportadores podem não sobreviver à baixa ou nenhuma margem de operação, baixa capacidade de inovação e pouca tecnologia. Em termos estratégicos, a fusão de transportadoras pode ser uma saída econômica – arriscada, por conta da perda de valor que algumas transportadoras apresentam em função do ambiente de dificuldade, mas que pode trazer novo fôlego ao setor.
No final, os palestrantes lembraram que, com a greve dos caminhoneiros, acontecida em maio último, essas perspectivas, com certeza, mudarão.

Baixe a pesquisa completa no link goo.gl/JkdLEW.