Posicionamento da ABOL sobre o novo reajuste do combustível

“A ABOL (Associação Brasileira de Operadores Logísticos) vem a público manifestar sua posição em relação ao novo reajuste nos preços do diesel e da gasolina para as distribuidoras, recentemente anunciado pela Petrobrás.

Desde o último sábado (18), o preço médio de venda do diesel para as distribuidoras passou de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro, representando um aumento de 14,2%. O diesel é o insumo mais utilizado nas operações de transporte de carga, chegando a compor mais de 40% de todo o custo operacional das empresas que oferecem o serviço. Com este aumento, elas passarão a adquirir o litro do diesel por pelo menos R$ 0,70 mais caro. Diferentemente da Petrobras, que é detentora de um monopólio, as empresas de logística não conseguem repassar os aumentos de preço imediatamente, o que pode levar um ou dois meses para acontecer, e a negociação muitas vezes não ocorre na totalidade do aumento. Com isso, tem-se um efeito cascata de repasses de custos até o consumidor final, que agravará, inevitavelmente, o atual quadro inflacionário do país.

Em nota, a companhia alega ‘que tem buscado o equilíbrio dos seus preços com o mercado global, mas sem o repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio’, em respeito ao Preço de Paridade Internacional (PPI), política esta que precisa ter seus termos revistos. Passaram pouco mais de 80 dias desde o último aumento no valor do diesel que ocorre, mais uma vez, de forma abrupta e em cenário econômico completamente adverso.

Reajustes como esse têm se tornado uma constante nos últimos pelo menos dois anos, desfavorecendo um ambiente de negócios saudável e competitivo no País. Vale ressaltar que os aumentos no preço do diesel têm sido muito superiores aos demais custos das empresas de logística e desequilibram diretamente sua saúde financeira. Diante desse cenário, o setor corre o risco de ser sucateado por não vislumbrar presente e futuro promissores para novos investimentos.

Estamos falando de empresas que abastecem o país e viabilizam o comércio internacional e que tentam, ao máximo, não repassar a variação desses custos aos embarcadores, ao mesmo tempo em que tentam garantir a qualidade dos serviços prestados. São empresas que tentam reduzir o Custo Brasil ao pensar em soluções logísticas de forma inteligente, integrada e customizada, garantindo ganho de eficiência aos diversos segmentos econômicos que delas dependem (ex.: indústrias de base/e farmacêuticas, grande varejo e e-commerce). Vale também destacar que o setor contribui com um alto valor em tributos e impostos, emprega massivamente e tenta priorizar capacitação e tecnologias de ponta, ainda que o cenário econômico seja de instabilidade.

Enquanto a Petrobras bate lucros recordes, os Operadores Logísticos veem a sua margem encolher. A rentabilidade da companhia é exorbitante quando comparada a de empresas similares de outros países, que optam por menos lucro em prol do desenvolvimento econômico e social de sua nação. O mesmo não notamos aqui. A Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 44,5 bilhões no 1º trimestre de 2022 – montante 3.718% maior que o registrado no mesmo período de 2021. De forma alguma o setor se opõe à rentabilidade de companhias estatais e de economia mista, mas desde que isso não seja em detrimento do desenvolvimento das demais e onerando a sociedade brasileira. Nesse sentido, acreditamos que os esforços políticos devem estar concentrados, neste momento, em encontrar um equilíbrio no mercado.

Do contrário, a cada novo reajuste, não restará outra alternativa às empresas que transportam cargas a não ser a de repassar o ônus adiante nos seus contratos de frete, o que impactará nos preços das mercadorias comercializadas para a população, agravando o quadro inflacionário que hoje vivemos. Já tivemos um apagão logístico no passado e é provável que tenhamos um muito mais grave no futuro breve, em função da má administração da política de combustíveis – e os impactos atingirão não apenas o setor de logística, mas também a própria Petrobras.”

Marcella Souza Cunha
Diretora-Presidente da ABOL