A Praticagem de São Paulo e a empresa Argonautica receberam na noite da última quinta-feira o “Prêmio ANTAQ 2017”, na categoria “Iniciativas Inovadoras”, por sua contribuição para melhorar a segurança e a eficiência do tráfego aquaviário com o desenvolvimento e utilização do “Redraft – Calado Real”, um sistema inédito, implantado em 2016 nas operações dos portos de Santos e São Sebastião.
“Com o crescimento das dimensões dos navios, a Praticagem de São Paulo realizou grandes investimentos para garantir a segurança nas manobras num porto com as características do de Santos: estreito, raso e sinuoso”, disse o presidente da Praticagem de São Paulo, Nilson Ferreira. Ele entende que “esse prêmio é uma recompensa aos esforços e investimentos da Praticagem, que beneficiaram o setor portuário como um todo”.
Os resultados podem ser medidos, uma vez que o emprego do Redraft já permitiu elevar em 50% a eficiência da movimentação dos navios em condições de mau tempo.
O REDRAFT – Com o Redraft, basta um clique para saber se um navio com grande calado tem condições seguras de trafegar pelo Canal do Porto de Santos em determinado momento e, assim, otimizar o aproveitamento das “janelas de maré”, nesta época em que navios com dimensões gigantescas frequentam o Porto, cuja condições geográficas permanecem praticamente inalteradas há décadas.
Até o ano 2000, a maior parte dos navios que operavam no cais santista apresentava arqueação bruta entre 10 e 30 mil toneladas, com no máximo 225 metros de comprimento e 32 metros de largura. Dezesseis anos depois,a arqueação bruta predominante é de mais de 50 mil toneladas e o comprimento dos navios aumentou significativamente, atingindo 336 metros.
Desenvolvida em parceria entre a empresa Argonáutica e a Universidade de São Paulo (USP) com exclusividade para a Praticagem de São Paulo, essa tecnologia é pioneira no Brasil. O operador do Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) tem à sua disposição no sistema da pauta de serviços as informações necessárias à manobra de qualquer navio confirmado. Para aqueles navios de maiores calados, o operador pode acessar o software que, a partir de informações sobre as dimensões do navio (calado, comprimento, boca, etc) e informações dos dados climáticos, hidrográficos e oceanográficos, aponta qual será a folga mínima entre o fundo do navio e o fundo do mar e em que ponto da trajetória do navio pelo canal essa folga ocorrerá.
Com isso, passou-se a utilizar o conceito de calado dinâmico, obtido a partir do navio em movimento, considerando as suas características físicas, os efeitos hidrodinâmicos e a influência de correntes de maré, dos ventos e das ondas que sobre o navio incidem.
SISTEMA INÉDITO
Por trás dessa operação, está a inédita tecnologia desenvolvida pela empresa Argonáutica em conjunto com Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN –USP). “É o primeiro projeto desse tipo desenvolvido e instalado no Brasil e também no mundo”, comenta o coordenador do TPN-USP, professor Eduardo Tannuri, salientando que com o emprego do Redraft já é possível observar relevante aumento na eficiência das manobras, mantendo a segurança. O sistema determina qual é o maior calado possível para transitar de forma segura, ou seja, sem risco de o navio tocar o fundo ou perder a sua manobrabilidade.
Segundo o presidente da Praticagem de São Paulo, Nilson Ferreira dos Santos, a ideia de desenvolver o sistema nasceu da preocupação com o constante crescimento das dimensões dos navios, ao mesmo tempo em que as condições geográficas do porto continuam as mesmas. “Não se trata de simples aumento do calado dos navios, mas o crescimento de todas as dimensões, como comprimento, largura e altura. A massa deslocada é cada vez maior, sofrendo influência mais acentuada de fatores como ventos e ondas”.
Para se adequar a essa nova realidade e manter o nível de segurança na navegação, a Praticagem de São Paulo investe permanentemente em tecnologia para obter dados precisos que garantam as manobras com o maior índice possível de segurança.
Mas não apenas em tecnologia. Grande atenção também é dada aos treinamentos de atualização dos práticos. Além dos obrigatórios, são feitos periodicamente cursos em instituições como Port Revel, na França, onde é possível a simulação de manobras em réplicas em escala de grandes navios, num programa de qualificação em que o profissional passa por situações inesperadas e tem de tomar a decisão certa para evitar um acidente ou minimizar seus efeitos.