Salto do dólar, alta nos custos do crédito de instituições públicas e privadas, maiores riscos, avanço nos juros, trava nos investimentos. Todos estes fatores devem compor o cenário econômico do setor agrícola, que não escapará dos danos que podem vir após o rebaixamento no grau de investimento do País, segundo representantes do setor ouvidos pelo DCI.
Na última semana, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) reduziu o chamado rating soberano do Brasil, de BBB- para o atual BB+, e manteve perspectiva negativa. Com isso, conforme apurou o DCI, os projetos de logística, a tomada de recursos para custeio da safra e aagroindústria podem ser os segmentos mais prejudicados pelo rebaixamento da nota.
Escoamento
Os R$ 198,4 bilhões integrantes da nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL), anunciada neste ano pelo governo federal, trariam uma redução entre 30% e 34% nos custos de transporte de grãos produzidos no Centro-Oeste até meados de 2018, segundo estimativas iniciais do Movimento Pró-Logística – presidido pela Associação dos Produtores deSoja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
“O PIL certamente será afetado e isso tem reflexo direto em nosso cotidiano. Já se tratava de um investimento atrasado, agora, não digo que não virão, mas chegarão ainda mais tarde”, afirma o diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni. Ele acredita que a decisão da S&P deve afugentar tanto os investidores nacionais quanto os internacionais. “Trata-se de um programa de concessões. Qual é a previsibilidade que temos para colocar dinheiro ali?”, questiona.
A principal aposta para a melhoria no fluxo está no embarque pelas rodovias, como a BR-163, e ferrovias, até os portos do Arco Norte, localizados no Pará e Maranhão, por exemplo, no intuito de desafogar os do Sul e Sudeste. Para tanto, uma série de obras integrantes do programa de logística estão em andamento.
Para o caso do investidor que optar por seguir com os aportes já estabelecidos para os projetos, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, acredita que a taxa de retorno sobre o investimento deverá aumentar para compensar o risco. “Companhias que apostam em projetos deste porte, como os de infraestrutura, se preocupam com o rating do País”, comenta.
Câmbio como vilão
A coordenadora de inteligência de mercado da consultoria FCStone, Lígia Heise, destaca que o recente rebaixamento pode acentuar a alta do câmbio, com efeitos diversos sobre os produtores rurais.
“Os cultivos de grãos têm alta de custos e aumento de receita. Em contrapartida, para os produtores de açúcar, cada vez que a moeda sobre o preço desta commodity cai em Nova York, além de aumentar as dívidas das usinas”, avalia.
A questão da dívida dolarizada torna-se um problema não só entre as usinas, como em toda a agroindústria.
“Vemos a inadimplência chegando ao campo. Este setor é muito dependente de capital externo, muitas vezes”, acrescenta o diretor da Abag.
Segundo Lígia, o financiamento tanto público quanto privado deve ser encarecido.
A curto prazo, este movimento tende a ser visto entre os fornecedores de insumos, que podem trabalhar com juros ainda maiores ao agricultor. No caso dos bancos públicos, o acesso ao crédito – já restrito – também pode ter impacto nas tarifas de concessão. “A dica para o produtor é uma gestão de caixa muito bem feita para evitar o endividamento. Nós, do agronegócio, não vamos ficar imunes aos problemas macroeconômicos”, finaliza Lígia Heise.
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