Criar um ambiente que possibilite o crescimento profissional é uma das formas mais econômicas de incentivar os colaboradores, despertando neles a vontade de alavancar vendas e promover o desenvolvimento empresarial. É o que aponta Vitória Lopes, consultora organizacional, professora de MBA, coach e conselheira do CRC-SP – Conselho Regional de Contabilidade.
“Quando o colaborador percebe que há possibilidade de crescimento e de aprendizado contínuo em uma organização, há uma competitividade natural entre eles, que oferecem em suas funções diárias o melhor de si, visando destacar-se”, revela.
Uma vez identificados os talentos, seja no processo seletivo, seja dentro do ambiente organizacional, a gestão estratégica de RH deve acionar seus programas visando fidelizar o colaborador à companhia. “É fundamental estar atento para não deixar passar uma iniciativa de proatividade”, lembra Vitória.
A política de cargos e salários é um bom indicador desta retenção. “Porém, muitas vezes, o que o colaborador deseja é ver seu talento reconhecido e saber que há um caminho para que ele possa se ‘enxergar’ dentro da organização.”
Desafios, inovações e novas técnicas de valoração são vitais para manter o interesse dos talentos nas empresas. Os ganhos são imediatos e, dentre eles, podem ser destacados: redução do turnover (rotatividade); diminuição dos custos com rescisão; eliminação de retrabalho; maior credibilidade no mercado e junto aos colaboradores; aumento do índice de satisfação; e fidelização do cliente pela qualidade do serviço adquirido.
Na crise
Com relação à crise econômica, Vitória diz que passar por este momento sem aumentar custos com demissões é um ganho considerável para qualquer setor. “Entretanto, acredito que o ganho de tempo é a maior vantagem para as organizações que souberem reter seus talentos, pois não precisarão treinar mão de obra, em especial a operacional”, expõe.
Ela explica que o aprendizado requer tempo de assimilação de tarefas e de particularidades, o que torna os processos morosos, aumenta as horas extras, os custos com refeições e os retrabalhos, podendo culminar no não cumprimento dos prazos.
“As empresas que retomarem suas atividades plenas com este plus certamente terão vantagem competitiva sobre seus concorrentes, porque terão custos mais enxutos”, afirma.
Agora, aquelas que não se atentaram a isso antes da crise e dispensaram profissionais, deverão, então, montar estratégia com treinamentos focados nas áreas/setores essenciais à produtividade; selecionar imediatamente os bons talentos à disposição no mercado; e planejar um bom pacote de benefícios.
Tecnologia
Hoje se fala tanto em tecnologia que as empresas se esquecem do bem maior, que são os profissionais. Como unir tecnologia e valorização profissional sem desmerecer o colaborador? Vitória responde que pessoas motivadas utilizam com maior inteligência emocional todos os recursos disponíveis. “Valorizar o humano é garantir boas análises dos relatórios que a tecnologia produz. É bom atentar-se para o fato de que a tecnologia auxilia a pessoa, afinal, é ela que pensa e toma decisões”, ressalta.
Para a consultora, a empresa que utiliza bem seus recursos tecnológicos tem colaborador treinado e motivado tirando o máximo da tecnologia. Isso aparece em relatórios concisos bem analisados e, em especial, bem direcionados aos fins que se propõe.
Na prática
Realizando consultoria organizacional para uma empresa, Vitória deparou-se, entre outros gargalos que elevavam os custos, com a área de seguros de transporte operando sem qualquer sistema e com pouca tecnologia. A companhia emitia aproximadamente 200.000 conhecimentos por mês, isso sem contar as reentregas.
“Havia também considerável número de conhecimentos emitidos como cortesia. A relação entre transportadora e seguradora estava em um nível de stress no limite, pois o contrato era baseado na quantidade de conhecimentos emitidos mensalmente e havia falhas constantes”, explica.
Analisando o assunto, a consultora percebeu que era necessário estruturar com urgência a área. Foi aí que entrou uma funcionária, que chamaremos de Segurina. O conhecimento que ela tinha sobre as particularidades das operações foi importante para a montagem de todo o processo envolvendo mais de 120 filiais localizadas em todas as regiões do Brasil.
Na época, a companhia tinha um sistema “caseiro”, então, um desenvolvedor foi deslocado para montar outro que havia desenhado com a colaboração da Segurina. Com a implantação, percebeu-se que:
• A cada reentrega, a empresa pagava novamente o seguro, pois emitia como se a carga estivesse saindo da filial expedidora para a recebedora. Ninguém ainda havia analisado essa questão;
• Do ponto de vista fiscal, tinha um erro na emissão do conhecimento, que foi substituído pela nota fiscal. O imposto deveria ser pago ao município e não ao Estado, como estava ocorrendo;
• Os fretes cortesias eram efetuados com mercadorias de valores muito expressivos.
Após análise dos relatórios com tais gargalos, foi criada uma rotina de conferência sequencial dos conhecimentos emitidos no mês. Também foi eliminada a emissão de conhecimentos de reentrega dentro do mesmo município. Criou-se, ainda, um relatório para que o comercial analisasse o impacto dos seguros sobre fretes cortesias, o que foi fundamental para a redução destes custos, pois o sistema passou a gerar um relatório estratégico para a diretoria executiva.
Com esta ação e o auxílio da colaboradora, foi possível estruturar os processos; acabar com o stress entre transportadora e seguradora; eliminar custos de reentrega dentro do município; evitar ação fiscal municipal, por emissão de documento incorreto; e reduzir em aproximadamente 90% os custos com seguros para fretes cortesias.
Após três anos, a companhia implantou o ERP vertical, que também foi utilizado nesta área, o que reduziu tempo de análise da empresa de tecnologia contratada e, consequentemente, o custo no desenvolvimento de adequação dos processos.
Como reter profissionais?
• Desenvolva suas habilidades e competências;
• Promova o treinamento das lideranças e multiplique estes treinamentos aos colaboradores em todos os níveis;
• Reconheça o trabalho realizado;
• Implante plano de carreira;
• Ofereça um pacote de benefícios atrativo;
• Invista na gestão ativa dos Recursos Humanos.