A nova rota aérea ligando Florianópolis a Lisboa, capital de Portugal, que começa a operar no dia 3 de setembro, não trará apenas benefícios para o turismo na região. A operação também abre caminho para a criação de um novo hub de cargas no Aeroporto Internacional de Florianópolis Hercílio Luz, impulsionando o comércio internacional e a economia local.
Essa foi uma das principais conclusões do painel “A Nova Rota Aérea SC-Portugal: Facilitando o Comércio e a Logística Internacional”, realizado no primeiro dia do Logistique Summit 2024, em Balneário Camboriú (SC). O painel reuniu especialistas do setor para discutir os impactos da nova rota aérea para o desenvolvimento econômico da região. Abertos na terça-feira, 23 de julho, o Logistique Summit e a feira Logistique seguem até o dia 25 no Expocentro BC.
O primeiro dia do Logistique Summit, no entanto, foi além do setor aéreo. A programação trouxe diversos outros temas relevantes para o setor logístico como: “Comércio Global – Projeções dos Portos Nacionais para atender as demandas e os desafios do crescimento”, “O Poder do Multimodal: Desafios e Oportunidades no Mercado Brasileiro”; “Soluções para destravar investimentos nos portos brasileiros” e “Sustentabilidade na Logística Portuária”.
Durante o painel da nova rota aérea, Ricardo Gesse, CEO da Zurich Airport Brazil, destacou o potencial da nova rota para transformar Florianópolis em um importante hub de cargas para o sul do Brasil. Ele ressaltou que a localização estratégica do aeroporto, aliada à infraestrutura necessária para operações cargueiras, torna a cidade ideal para essa função.
“Com essa nova rota, Lisboa se torna um hub na Península Ibérica, servindo como aeroporto de entrada e saída para cargas provenientes da China e de outras origens”, pontua Marcelo Vitorino, Country Manager Brasil e South América da TAP Linhas Aéreas. Ocorre que a TAP começou a operar recentemente uma rota cargueira ligando Pequim, na China, com Bruxelas, na Bélgica, com dois voos semanais. “Essa combinação de fatores poderá trazer um aumento significativo no volume de cargas movimentadas por Florianópolis. Só na rota SC-Lisboa, a previsão é de movimentar 300 toneladas por mês”, completa.
Tipos de carga e impacto na economia
A expectativa é que o novo hub de cargas movimente diversos tipos de produtos, incluindo têxteis, metalmecânica, eletrônicos e produtos de e-commerce. Isso beneficiará empresas de todo o sul do Brasil, que terão acesso a um novo mercado internacional para seus produtos. “Essa nova rota aérea terá um impacto positivo em toda a economia da região”, afirmou Ricardo Gesse. “Além de facilitar o comércio internacional, também trará novos investimentos e oportunidades de emprego para o estado de Santa Catarina.”
Complemento aos voos de passageiros
O transporte de cargas será um complemento aos voos de passageiros da rota Florianópolis-Lisboa. Isso significa que os custos de transporte aéreo serão diluídos, o que poderá levar a preços mais competitivos para as empresas que desejam exportar seus produtos. “Essa nova oportunidade de voos nos permitirá atender a clientes que hoje não são atendidos por Florianópolis. Com 70% do porão do avião dedicado ao transporte de cargas, teremos capacidade para atender a uma demanda crescente por esse tipo de serviço”, disse Vitorino.
Investimentos em infraestrutura
Para suportar o aumento da demanda por transporte de cargas, o Aeroporto Internacional de Florianópolis está passando por uma série de mudanças estruturais. Entre elas, está a duplicação do tamanho do terminal de cargas, o que permitirá a operação simultânea de mais voos cargueiros. “Estamos investindo na infraestrutura do aeroporto para atender à nova demanda por transporte de cargas”, disse Gesse.
Comércio Global e os Portos Brasileiros
Um dos painéis mais concorridos do evento foi o “Comércio Global – Projeções dos Portos Nacionais para atender as demandas e os desafios do crescimento”, que abordou as perspectivas para os portos brasileiros em um cenário de retomada do crescimento econômico.
Especialistas destacaram a necessidade de investimentos em infraestrutura para que os portos brasileiros possam acompanhar o ritmo do crescimento do comércio exterior. Também foram discutidas as oportunidades que os portos brasileiros têm para se tornarem hubs logísticos internacionais. Um exemplo é a necessidade de investir na bacia do complexo do Itajaí e no canal de acesso, como pontuou Osmari de Castilho Ribas, diretor-administrativo da Portonave.
Multimodalismo em foco
O painel “O Poder do Multimodal: Desafios e Oportunidades no Mercado Brasileiro” explorou as vantagens do transporte multimodal, que combina diferentes modais de transporte, como rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo, para otimizar a logística de cargas. Para Lilian Cristina Françoso dos Santos, gerente de Cargas da CCR Aeroportos, o Brasil tem um grande território para explorar no que se refere a multimodalidade, principalmente se comparar com a Europa em termos de dimensões territoriais.
Os participantes do painel destacaram também que o multimodalismo pode trazer diversos benefícios para as empresas, como redução de custos, maior eficiência e menor impacto ambiental. No entanto, também foram apontados alguns desafios, como a falta de integração entre os diferentes modais de transporte e a burocracia excessiva.
Soluções para os Investimentos Portuários
O painel “Soluções para destravar investimentos nos portos brasileiros” buscou soluções para os gargalos que impedem o investimento em infraestrutura portuária no Brasil. Os especialistas destacaram a necessidade de um marco regulatório mais claro e previsível, além de maior segurança jurídica para os investidores. Também foi defendida a desburocratização dos processos de licenciamento e a modernização da gestão dos portos.
De acordo com Mario Povia, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), o principal objetivo para destravar os investimentos no sistema portuário é o desenvolvimento regional a partir de um politica eficiente da infraestrutura de transportes.
Sustentabilidade na logística portuária:
O painel “Sustentabilidade na Logística Portuária” abordou a importância da adoção de práticas sustentáveis na operação dos portos brasileiros. Os participantes do painel destacaram que a sustentabilidade pode trazer diversos benefícios para os portos, como redução de custos, melhoria da imagem da empresa e atração de investimentos. Para Jesualdo Silva, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), a sustentabilidade na logística portuária é uma realidade que está batendo a portas do sistema portuário nacional.
Ele citou o exemplo da Portonave, de Navegantes (SC), que está investindo par fornecer energia para os navios quando estiverem atracados, que já é uma exigência de alguns países da Europa. Portos que não possuem esta infraestrutura podem ficar sem receber navios cargueiros. Ele também destacou a importância do Brasil aproveitar o potencial de sustentabilidade que possui para gerar benefícios econômicos também para a logística portuária.