Terceira edição do Encontro Vez & Voz, do Setcesp, celebrou a coragem das mulheres para crescer no TRC

Abraçando o poder feminino, o movimento Vez & Voz, criado pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) para aumentar e fortalecer a participação das mulheres nas empresas e entidades do TRC, realizou sua terceira edição em 26 de março, no Palácio dos Transportes, em São Paulo, SP.

Participaram cerca de 200 pessoas, entre executivas do setor de transporte e logística, profissionais da área e colaboradoras de entidades de classe e de empresas associadas. O evento mostrou que, a cada dia, as mulheres vêm se erguendo como condutoras do destino de suas próprias carreiras, enfrentando todo tipo de desafio. Pensando nisso, o tema principal dessa edição foi “Coragem para crescer”, buscando incentivá-las a crescerem em suas carreiras, enfrentando medos e inseguranças.

Na abertura, o presidente do Setcesp, Adriano Depentor, destacou que o setor vem gradualmente tendo uma percepção mais igualitária. “Nosso objetivo é propiciar que as mulheres estejam onde querem estar. Temos exemplos claros da produtividade feminina, principalmente em áreas em que a atuação delas não era comum. O Vez & Voz é uma semente que começou pequena e hoje está florida, podendo ser disseminada por todo o país”, demonstrou, acrescentando que só é possível combater a violência quando se dá voz às pessoas e há equidade.

Na ocasião, Ana Jarrouge, presidente executiva do Setcesp e idealizadora do Vez & Voz, adiantou que nestes quase quatro anos do movimento, mudanças já foram sentidas. De acordo com o Índice de Equidade no TRC, lançado no ano passado, há um aumento, ainda que tímido, da presença das mulheres no modal rodoviário de cargas.

Em 2023, o quadro de colaboradores das empresas participantes era formado por 15% de mulheres; em 2024, a quantidade subiu para 26%. Entretanto, dois gaps continuaram: apenas 3% delas ocupam cargos de alta liderança e há somente 3% de motoristas mulheres. “Precisamos continuar o trabalho para aumentar a presença delas principalmente nessas duas funções que são muito importantes para as empresas do setor”, disse Ana.

No caso das motoristas, além das questões de preconceito, ainda há a falta de experiência. Por outro lado, inúmeras empresas têm vagas abertas para o cargo. “Não estamos conseguindo fazer o match entre essas vagas e as mulheres que estão preparadas e buscam atuar na função. Sugerimos que seja criada uma bolsa-auxílio para que as empresas consigam contratar essas profissionais a fim de adquirirem experiência”, contou.

Ana também mostrou que o Índice de Equidade considera diversos pilares: assédio, diversidade, funções e níveis hierárquicos, programas e benefícios, recrutamento e retenção, treinamento e capacitação, além de violência doméstica. “Todos são importantes não apenas para atrair, mas também para reter e incluir essas mulheres nas companhias”, explicou.

Em 2023, a soma dos pontos desses pilares no universo das empresas entrevistadas foi 37 de 100. Em 2024, chegou a 40, com melhoria na questão de assédio, tema trabalhado fortemente pela entidade através de conscientização e capacitação (veja mais detalhes sobre a pesquisa no box desta matéria).

Inclusive, foi lançado no evento o e-book Assédio no Trabalho – como ele se configura e o que as empresas podem fazer nesses casos, elaborado pelo Grupo de Trabalho do Setcesp e parceiros. Foi anunciado, ainda, o EAD sobre o Programa Emprega Mais Mulheres – Lei 14.457/22, que ensina como implantá-lo, já que é obrigatório, dando um norte e sugestões para as empresas.

Sobre motivação para continuar, apesar de tantas notícias de assédio e outras violências contra mulheres, Ana contou que tudo é um processo de construção. “Quando temos clareza sobre nossos propósitos e objetivos, precisamos nos unir a pessoas que compartilham da mesma energia e inspiração. Assim, realizamos ações e colhemos os resultados. O recente aumento da presença feminina nas empresas de transporte é um exemplo disso. Este é um movimento gradual e de longo prazo, mas acredito que estamos alcançando nossos objetivos aos poucos”, disse em entrevista exclusiva à Logweb.

Premiação

Durante o evento, aconteceu a 1ª edição do Prêmio Vez & Voz. Um total de 24 projetos foram inscritos e avaliados por quatro jurados sob os critérios de inovação, evidências, perenidade e resultados. O público acompanhou a entrega dos troféus a três transportadoras, que tiveram suas ações premiadas em três categorias.

Na categoria “Mais Mulheres no TRC”, foram oito projetos participantes e venceu o Grupo Sada com a iniciativa “Mais Mulheres na Operação”. “Fizemos um movimento completo com estratégias para melhorar a cultura organizacional, implementar mudanças na infraestrutura, identificar quais áreas estão com maior déficit de mulheres na equipe para recrutar de acordo com o perfil desejado para as vagas. Criamos desde vestiário e banheiro feminino na operação até treinamento com o time para receber estas mulheres”, contou Flavia Capelli, gerente de gente e gestão da empresa.

Outros 10 projetos concorreram na esfera “Motoristas”, na qual a Coopercarga levou o troféu pelo projeto “Mulheres no volante”. A supervisora de sustentabilidade, Amanda Novembrino, recebeu o reconhecimento e contou que desenvolveram um plano de carreira interno que abriu possibilidade para que ajudantes se tornassem motoristas de vans, para que motoristas de van pudessem dirigir VUCs e para que motoristas de VUCs assumissem as carretas. Na empresa, 24% dos motoristas são mulheres, que conduzem os veículos sustentáveis, marcados com o selo “Coopercarga Verde”.

Em “Liderança”, a Patrus Transportes foi a vencedora com o projeto “Diversidade Patrus”, que disputou com outras seis iniciativas. “Na Patrus o assunto diversidade é defendido pela alta liderança e faz parte do planejamento estratégico. Neste projeto, desenvolvemos uma jornada de educação, treinamento e desenvolvimento para viabilizar a contratação de mais mulheres, bem como a ascensão profissional das colaboradoras que já atuam conosco”, compartilhou Olga Mendes, gerente de responsabilidade social.

O júri técnico foi composto por profissionais com grande experiência no TRC em áreas diversas: Janete Anelli, coordenadora geral do Capítulo PR do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e especialista em governança de empresas familiares; Júlio Ramos, assessor para a sustentabilidade no transporte rodoviário de cargas na SUROC na ANTT; Paulla Demeneghi, ex-caminhoneira, empresária e especialista em desenvolvimento de liderança humanizada; e Salete Argenton, gerente geral na FABET/SP e especialista em gestão de projetos.

Inspiração

Após a premiação, o evento recebeu a banda “As Valquírias”, com instrumentos de percussão, cantando a música “Coragem”, do cantor e compositor Diogo Nogueira. Na sequência, Amanda Oliveira, empreendedora social e fundadora da Nação Valquírias, palestrou e contou sua história de coragem e superação.

Ela quase morreu quando tinha 3 meses de idade em um acidente doméstico. Cresceu em uma favela e viu sua vida mudar após ser atendida por um projeto social. Assim, decidiu criar a instituição, que homenageia sua professora de música, Valquíria, para impactar o maior número de pessoas possível.

“Nada é mais poderoso quando um grupo de mulheres se junta para fazer algo. Arquitetaram por muito tempo para que ficássemos separadas, porque unidas somos imbatíveis. O nosso sucesso está atrelado à colaboração”, disse Amanda.

A empreendedora destacou a dificuldade das profissionais em aceitar o reconhecimento por suas próprias conquistas, defendendo que o bom senso já é algo intrínseco na mulher. “Você não pode esquecer de que ‘se achar’ é o exercício de se encontrar. Não tem nada de errado em brilhar. Tem gente que faz para aparecer, tem gente que aparece porque faz.”

Amanda falou em abrir portas para as novas gerações a fim de se construir uma sociedade mais justa e igualitária, que é importante a renda estar na mão das mulheres, porque são elas que fazem chegar às crianças.

“Nós não estamos acostumadas a ter projeção. Ver hoje aqui mulheres subirem ao palco para receber seus troféus pelo desempenho de suas organizações é um ato de coragem” disse. Ela ainda perguntou ao público: “Quem era você antes dos seus traumas? As cicatrizes servem só para te lembrar que você é mais forte do que aquilo que te feriu.  Sua história é o seu maior patrimônio”.

O final do 3º Encontro Vez & Voz foi marcado por uma homenagem feita pela equipe do Setcesp à Ana Jarrouge. “Você não quer e não gosta de andar sozinha, estamos crescendo sob a sua liderança. Ana, hoje queremos te encorajar a não desistir de nos liderar”, disse Camila Florencio, gerente de comunicação e coordenadora do Vez & Voz.

E para encerrar, as participantes receberam uma vela para manter a chama sempre acessa com coragem para vencer. “Hoje, expressamos nossa honra a tantas que trilharam caminhos altos para que pudéssemos estar aqui. Que também possamos motivar e inspirar muitas outras ao iluminar o caminho delas. Assim, celebramos a coragem para crescer e fazemos um convite para que sejamos luz nesse mundo”, disse Nathália Monteiro, mestre de cerimônias que conduziu brilhantemente todo o evento.  

Índice de Equidade permite identificar se a empresa está no caminho certo e onde precisa melhorar

No dia 4 de abril foi apresentado o Índice de Equidade do TRC 2024 em evento online no Canal do You Tube do Setcesp. Camila Florencio, coordenadora do Vez & Voz e gerente de comunicação da entidade, compartilhou que o grande diferencial deste estudo é que cada empresa participante recebe o seu relatório individual e, com isso, pode identificar exatamente se está no caminho certo e onde precisa melhorar.

O índice foi construído pelo IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Carga) a pedido do Vez & Voz, que aplicou um questionário de 60 perguntas, abordando temas ligados a políticas corporativas, culturas, ocupação e liderança. Foram colhidas 86 respostas de transportadoras, de janeiro a março deste ano.

A verificação dos resultados se dá em uma escala que vai de 1 a 100. Acima de 90 significa um ótimo resultado, já abaixo deste número até 66 quer dizer que a organização está no caminho certo. Entre 65 e 51, demonstra um quadro em que dá para melhorar. Já abaixo de 51, conclui-se que é preciso rever as estratégias e conceitos adotados. Das empresas participantes em 2024, 62 precisam rever seus conceitos, 22 precisam melhorar e 2 estão no caminho certo. O resultado é melhor que do ano passado.

“Apesar de não divulgarmos um ranking oficial das empresas, nós fazemos um acompanhamento das notas e a Cavalinho foi uma das que teve maior evolução no Índice de Equidade. Saiu da posição 56 em 2023, para a posição 28 em 2024”, destacou Camila.

Gabrielle Moraes, responsável pela Comunicação Corporativa da Cavalinho, disse que o movimento faz com que as ações da empresa sejam mais tangíveis. “Falar que temos uma empresa ESG é muito fácil, mas, na prática, quais são os projetos verdadeiramente feitos que fortalecem o fator humano da organização?”, questionou Gabrielle, propondo a quem assistia à live uma reflexão.

O Índice de Equidade do TRC 2024 pode ser baixado clicando aqui. https://conteudo.vezevoz.org/indice2024

E a live de apresentação dos resultados está disponível aqui. https://www.youtube.com/live/07TFgBfOgRQ%3Fsi%3DM2N2-0KxbZ9NqAD_