Nesta análise do setor, empresas contam que precisaram trabalhar fortemente na redução dos custos, em razão da crescente alta de todos os insumos do transporte e, principalmente, do diesel.
Para fazer um balanço no TRC no ano de 2021, comentar as expectativas para 2022 e, ainda, analisar a questão da eletrificação, ouvimos representantes de empresas do setor, que trazem um panorama valioso do transporte rodoviário de carga neste fim de ano.
O ano de 2021 trouxe muitos desafios para todos os setores. No TRC, mesmo com os avanços de infraestrutura, ainda existem muitos investimentos a serem executados, como aponta Duarte José Paniz, diretor executivo do Grupo Farrapos. “Sofremos com o aumento forte do diesel e de outros subprodutos do petróleo, como asfalto, pneus e lubrificantes. O mercado, que está sempre procurando melhores margens, não está recebendo os realinhamentos com naturalidade. Além de defasagens históricas, ainda possuímos a deste ano para recompor.”
Paulo Simioni, vice-presidente e diretor operacional da Coopercarga, ressalta que a mais impactante consequência do cenário pandêmico são as oscilações das moedas e do poder de compra. Além do aumento extensível e sucessivo do óleo diesel, ele destaca, também, o aumento geral nos insumos relacionados ao transporte, à manutenção dos veículos, bem como o preço dos novos veículos, que também cresceu expressivamente.
Para João Paulo Caldana, managing director da Dachser Brasil Logística, 2021 está sendo um ano de crescimento para o setor de transporte de carga, apesar da falta de ajuste na política de tributação de impostos e os aumentos sucessivos de combustíveis.
As dificuldades no setor continuam sendo a falta de infraestrutura e de segurança e concessões das rodovias. “Apesar das dificuldades, a maioria dos transportadores e autônomos entende que o problema é mundial e que tanto o embarcador quanto o transportador têm de ceder um pouco e achar um denominador comum para que a maioria do setores continue em crescimento”, acrescenta Caldana.
O Grupo Toniato, segundo o diretor comercial, Luiz Carlos dos Santos Monteiro, teve de trabalhar fortemente na redução dos custos, em razão da crescente alta de todos os insumos do transporte e, principalmente, do diesel. “Porém, consideramos a experiência positiva, pois superamos a nossa projeção de toneladas transportadas, apesar de todas as dificuldades devido à pandemia. Estamos tendo que administrar de forma muito rigorosa o resultado de todo o nosso volume de negócios.”
Na análise de Bruno Tortorello, CEO da Jadlog, o transporte rodoviário de cargas cresceu em relação ao ano passado e o e-commerce tem relevante contribuição neste resultado. “A pandemia mudou os hábitos de consumo do brasileiro, que passou a realizar mais compras pela internet, e este novo patamar de compradores online se consolidou em 2021, aquecendo, ainda mais, o setor de transportes e logística.”
Mesmo com o aumento dos insumos, incluindo os combustíveis, que levou a uma queda na margem de lucro das transportadoras, a grande movimentação de cargas tem compensado de alguma forma as perdas e mantido o setor em um bom momento, acrescenta Tortorello.
Para Ricardo Botelho, presidente da Jamef, o setor de transportes de cargas encerra 2021 com grandes lições, avanços e desafios. “A pandemia afetou a todos indistintamente e impactou hábitos de consumo e formas de trabalhar. As novas formas de compras dos brasileiros aumentaram consideravelmente a necessidade pelo transporte de cargas fracionadas, nossa especialidade. E este cenário parece ser permanente.”
Dentre os problemas do setor, Botelho também cita a alta nos combustíveis. Na Jamef, a situação foi contornada com investimentos ainda maiores na gestão da frota e de combustíveis, trazendo uma economia de mais de 700 mil reais em custos com a realização de manutenções regulares e ações preventivas.
Já a JSL investiu na diversificação do portfólio de serviços logísticos e ganhos de escala. “Os desafios de ordem estrutural foram enfrentados com nosso principal diferencial – o valor e a experiência dos times que compõem a empresa –, associados ao desenvolvimento de tecnologias, serviços e projetos inovadores, que contribuíram para o aumento da produtividade, a redução de custos e a otimização de processos necessários no cenário deste ano”, explica o CEO da empresa, Ramon Alcaraz.
Este foi um ano de muita dificuldade para o setor, motivado por uma recuperação econômica muito lenta e ainda dentro da pandemia. “Por outro lado, grande parte das empresas que fizeram um ajuste enorme em suas operações em 2020 está conseguindo, em 2021, uma melhor performance operacional, ou seja, fazendo mais com menos”, opina, por sua vez, Marinaldo Barbosa dos Reis, diretor comercial da Renascer Express.
Na análise de Toni Junior Ramos Trajano, CEO da Soluciona Logística, 2021
começou no embalo da retomada da economia, mas logo os efeitos da segunda onda da Covid-19 atormentaram mais o mercado. Mas, desta vez, a grande maioria das empresas estava mais preparada para suportar e superar a nova onda de lockdowns.
Além disso, segundo a CNT – Confederação Nacional do Transporte, de janeiro a outubro houve um saldo positivo na geração de empregos no setor de 13.235 mil vagas. Em relação à indústria automobilística, de acordo com a Anfavea, foram produzidos, de janeiro a outubro de 2021, 131,9 mil unidades – o maior volume desde 2013, 91,2% maior que o registrado no ano anterior, apesar de todas as dificuldades, como falta de componentes e pneus.
Junta-se a este crescimento a chegada de novas tecnologias mais limpas, como o VUC elétrico e o caminhão movido a GNV, ambos em linha com as novas tendências de redução e eliminação de emissão de gases poluentes.
“Não há como negar que o TRC está em uma curva ascendente, impulsionado por setores como agronegócio e e-commerce. No entanto, não significa que para os Operadores Logísticos e as transportadores este seja o melhor dos cenários, pois o desbalanceamento da cadeia produtiva mundial, em função da pandemia, assim como o efeito oferta x demanda, fizeram com que os preços dos caminhões e carretas registrassem aumentos em torno de 70% em relação ao período pré-pandemia”, aponta Trajano.
O CEO da Soluciona continua, dizendo que diante deste crescimento irrefreável dos custos, os transportadores e Operadores se viram obrigados a renegociar suas tarifas. “Surgiu, então, o desafio de repassar os custos, tendo em vista que a indústria e o varejo também se veem fragilizados pela pandemia. Este desafio não deve ser totalmente resolvido neste ano e exigirá muita criatividade do setor, além da flexibilidade dos embarcadores para encontrar, juntos aos seus fornecedores, novas formas de fazer as operações acontecerem”, comenta.
Realmente, o ano de 2021 para os transportadores em geral, empresas ou autônomos, foi repleto de incertezas, expõe Marcus Sartori, coordenador da Transal Transportes. “Para alguns, novas oportunidades surgiram e com muito investimento, muito mesmo, conseguiram alavancar seus negócios, ao contrário da grande maioria, que lutou para apenas manter suas atividades.”
Ele conta que após o estouro da pandemia, em meados de abril de 2020, que gerou demissões em massa em todos os segmentos de mercado, incluindo o TRC, veio a surpresa. Em meio à crise sanitária, econômica e política instalada no país, ocorreu um boom de demanda no transporte que superou todas as expectativas pré-pandemia até então projetadas.
As contratações de novos funcionários para o setor foram às alturas, superando até mesmo as demissões meses antes realizadas. O volume de carga movimentada foi impressionante, criando assim um cenário para o ano de 2021 muito positivo. “Mas isso não se confirmou. A falta de caminhões novos tornou-se um problema, e os preços ‘abusivos’ foram considerados normais para o momento.”
Sartori cita, ainda, as disputas políticas por conta das vacinas e a necessidade de alavancar a economia, que geraram uma inflação que superou os dois dígitos. “Os preços em geral dispararam, não sendo acompanhados pelos salários. O poder de compra da população diminuiu e, assim, aquela expectativa de aumento do volume de carga não aconteceu. Estamos passando por um momento de estagnação. E ficou agora a difícil tarefa de reajustar os preços de frete”, lamenta.
Um ano pandêmico, de instabilidade econômica, de comportamentos sociais reestruturados e, consequentemente, de oportunidades. É assim que Thiago Barsan Suzin e Gustavo Crosara, respectivamente CEO e diretor de marketing da Movah Group, descrevem 2021.
Na Manlog, que faz parte do grupo, o ano foi marcado por investimentos e mudanças, tanto no âmbito estrutural quanto comportamental. A empresa direcionou sua atuação para um viés mais consciente, baseado nas diretrizes do ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).
Com uma das maiores frotas de veículos 100% elétricos do Brasil, a Wings (também transportadora do grupo) e a Manlog, juntas, já neutralizaram cerca de 500 toneladas de carbono, o equivalente ao plantio de mais de 3 mil árvores.
A Manlog investiu também em tecnologia: câmeras CFTV, sensores de fadiga, de frenagem, de estacionamento e ponto cego, bem como na gestão de monitoramento via torre de controle, em tempo real. Implementou sistema de pneus inteligentes, que prolonga sua vida útil e evita seu descarte indevido, e investiu em uma gestão de processos 100% digitalizada, via smartphones e tabletes.
Em 2021, o TRC trouxe inúmeros avanços positivos em desempenho para a RV Ímola, que modernizou a frota com veículos novos, investindo em sua qualificação térmica. Dessa forma, estão adequados com a RDC 430, que dispõe sobre a qualificação térmica. “O maior problema enfrentado, em nível nacional, foi a grande alta nos preços dos combustíveis, reduzindo muito a margem dos fretes já contratados em anos anteriores”, aponta Max Trevisan, diretor comercial da empresa.
Para Roberto Mira Junior, diretor geral da Mira Transportes, 2021 foi um ano muito atípico, com aumento elevado nos custos dos insumos do setor de transporte, principalmente, combustíveis e derivados, o que ajudou, inclusive, no aumento da inflação e, consequentemente, afetou o bolso dos consumidores.
“Creio que o maior desafio no atual momento, e que ficará ainda mais incisivo para 2022, é equilibrar essa balança de rentabilidade x custos em todo o setor logístico. Ainda assim, nosso grupo cresceu 18% com relação ao ano anterior. Expandimos nossa região de atuação, fazendo uma forte lição de casa e entendendo a demanda dos nossos clientes para uma rentabilidade justa”, revela.
E 2022?
A esperança de Paulo Sarti, diretor-presidente da Penske Logistics Brasil, é ter um ano de 2022 melhor do que o de 2021. “Os volumes aumentaram, mas as margens continuam muito pressionadas devido à alta da inflação e aos diversos aumentos de custo em toda a cadeia. É incerto ainda prever se o setor conseguirá repassar suas tarifas e o impacto dos aumentos de custo do diesel, por exemplo. Somente neste ano foram 12 reajustes e quase 50% de aumento”, ressalta. A Penske prevê um aumento de volume importante em segmentos como automotivo, eletrônicos e consumo, que foram muito afetados em 2020. Também houve aumento significativo de propostas e projetos. “Estamos com um número recorde de propostas apresentadas e em desenvolvimento para esta época do ano.”
No Brasil, este ano, e empresa projeta resultados melhores do que no ano passado. “Nosso desafio está em administrar os aumentos dos custos e o alto turnover que estamos sofrendo em algumas posições devido à pressão do setor de e-commerce, que vem crescendo muito e atraindo profissionais do setor de logística”, acrescenta Sarti.
Para 2022, a Coopercarga espera que a vacinação efetiva possa chegar às pessoas e gerar mais tranquilidade para a empresa voltar a trabalhar efetivamente e massivamente. “A vida normal e a tranquilidade serão consequências vindas da saúde. Contamos com a retomada e a estabilização da economia, principalmente em relação aos insumos de maneira geral e ao que nos impacta diretamente. Contamos com a estabilização dos preços e seguimos confiantes que, com as inúmeras melhorias de infraestrutura realizadas em 2021, tanto em rodovias, como em portos, a retomada e a alavancagem aconteçam de maneira efetiva”, comenta Simioni.
Caldana, da Dachser Brasil, acredita que 2022 continuará sendo um ano desafiador, porém com perspectivas positivas com o reaquecimento da economia, com a volta das fábricas para repor seus estoques de peças, veículos e caminhões; além do aumento de consumo da população com a melhora da cobertura vacinal. “O aumento do consumo será o grande aliado em 2022, porque tudo o que é consumido chega através de caminhão, assim o setor cresce de acordo com o crescimento da economia.”
Em 2022, a grande perspectiva de Paniz, do Grupo Farrapos, é que não ocorram mais lockdowns em nível estadual. No contexto mundial, é necessária a normalização da oferta mundial de produtos. Assim vamos diminuir a pressão sobre inflação em nível global, o que irá refletir em nossa economia”, relata.
As perspectivas são positivas para Monteiro, do Grupo Toniato, com a retomada da economia e o programa vacinal e também pela visão da carteira de clientes da empresa em relação ao mercado. “Sabemos que mesmo com as incertezas políticas devido à eleição em 2022, haverá crescimento. Estamos com uma estratégia definida de ampliação de área de atuação e isto demonstra nossa aposta no crescimento da economia e do nosso Grupo”, salienta.
Tortorello, da Jadlog, diz que o modal rodoviário é o mais utilizado para transportes de cargas e continuará sendo. “Neste sentido, acreditamos que esse cenário de 2021 se mantenha no geral em 2022 e o transporte rodoviário de cargas crescerá no mesmo patamar, impulsionado especialmente pelo e-commerce.”
Mesmo com o avanço na retomada econômica, Botelho, da Jamef, entende que a pandemia deixará algumas mudanças permanentes, entre elas a tecnologia como aliada e facilitadora do dia a dia das pessoas e das empresas. “Em 2021 trabalhamos fortemente com o aumento de demanda em diversos segmentos, como vestuário, informática e aparelhos eletrônicos, cosméticos, equipamentos médico-hospitalares, entre outros, que devem se perpetuar em 2022”, expõe.
Segundo ele, mesmo com as lojas abertas, o e-commerce fidelizou o brasileiro, pela facilidade e preços mais competitivos, e o aumento da urgência por entregas de produtos deve continuar, seguido do desafio de cumprir prazos cada vez mais curtos até a última milha, principalmente em grandes centros urbanos.
Na Movah Group, as perspectivas para 2022 são de mais parcerias sustentáveis e novas fontes de combustíveis alternativos. “Estamos viabilizando projetos para garantirmos autoeficiência energética até 2030”, destacam Suzin e Crosara.
Já a RV Ímola acredita que efetivamente haverá fiscalização referente à RDC 430, que dispõe de qualificação térmica. “Isso será, sem dúvida, um diferencial competitivo no TRC de medicamentos, material médico e imunobiológicos”, ressalta Trevisan.
Sartori, da Transal Transportes, acredita que, para 2022, mesmo em ano de eleição presidencial, “o que por si só sempre atrapalha”, a economia entrará nos eixos, a inflação diminuirá e por consequência os preços em geral também diminuirão. “Ocorrerá um gradual aumento da produção e, assim, maior oferta e volume a transportar, mas, para ser rentável, os transportadores deverão atualizar seus fretes e acompanhar bem de perto seus custos de operação. Caminhões carregados não são sinônimos de lucro”, aponta.
Para Alcaraz, da JSL, o cenário mundial está bastante incerto e fica difícil prever com clareza como o mercado vai se comportar em 2022. “No entanto, estamos otimistas e acreditamos que as perspectivas para o próximo ano são promissoras, uma vez que a JSL fechou 2021 com R$ 3,7 bilhões em novos contratos, com reflexos positivos assegurados para os próximos 48 meses”, comemora.
A empresa está mantendo um crescimento orgânico e inorgânico graças ao equilíbrio proporcionado pela opção por uma gestão austera, focada na otimização de recursos, aliada ao bom desempenho de quatro ramos de atuação: operações de logística dedicada, transporte rodoviário de cargas, distribuição urbana e serviços de armazenagem. “Na média fomos favorecidos por um crescimento acelerado, que sinaliza manter-se em 2022, em setores como mineração, agro, papel e celulose e varejo.”
Também no que diz respeito às dificuldades para compra de veículos, diante da escassez de componentes para sua fabricação – um problema sentido no Brasil e no exterior – o fato de a JSL integrar o grupo Simpar, o maior comprador de caminhões, carros, equipamentos e máquinas no país, coloca a empresa em uma posição favorável junto aos fornecedores. “Nossa frota, uma das maiores do setor, com idade média de 3 anos e meio, tem sido fundamental para disponibilizarmos transporte e atender à crescente demanda do mercado, com redução de custos em manutenção, combustível e peças”, destaca Alcaraz.
Será um ano ainda muito difícil, de economia com recuperação lenta e previsão de baixo crescimento, na opinião de Reis, da Renascer Express. “As empresas que sofreram com o aumento de custos dos últimos anos terão muitas dificuldades para alcançar alguma recuperação das margens, que estão com uma defasagem considerável.”
Falar do futuro, neste cenário, é um grande desafio, opina Trajano, da Soluciona. “Entendemos que a economia, grosso modo, depende do consumo, que impulsiona a indústria e os serviços. O que estamos vendo, de forma macro, é o aumento dos juros e o desemprego, que podem gerar uma desaceleração do consumo em relação a este ano. Soma-se a isto o fato de ser um ano eleitoral, no qual poder haver insegurança em relação a novos investimentos pela iniciativa privada, bem como gerar impacto em projetos de infraestrutura e retração do investimentos internacionais.”
No entanto – continua ele –, assim como ocorreu no pico da pandemia, quem conseguir propor soluções inovadoras, e em linha como a nova economia, tende a ter um ano promissor, dado que as empresas têm se mostrado abertas a conhecer e testar novas soluções. “É neste sentido que estamos trabalhando na Soluciona, inclusive com novos produtos, em linha com o novo mercado e com o nosso propósito, que é impulsionar a evolução logística com sustentabilidade”, declara Trajano.
A empresa está concluindo a implantação do sistema de gestão SAP, que será integrado a um novo, e mais robusto, TMS. “Estamos também evoluindo fortemente na retomada de projetos de inovação relevantes e, de certa forma disruptivos, pelo nosso ecossistema Soluciona LAB – iniciativas que tivemos que segurar em função da pandemia, mas que agora fazem ainda mais sentido para nossos clientes e, consequentemente, para nós”, explica.
Dentre elas, cita o lançamento, em breve, de uma solução de economia colaborativa, que virá para chacoalhar o setor e resolver muitos problemas percebidos e não percebidos pelos embarcadores, de acordo com Trajano.
Eletrificação
A eletrificação é uma tendência global, necessária e o futuro caminha para isso, como afirma Botelho, da Jamef. “O compromisso em reduzir impactos ambientais causados pelo nosso setor e contribuir efetivamente com a sustentabilidade ambiental devem fazer parte do nosso dia a dia. Na Jamef testamos caminhões elétricos em nossas rotas e tivemos uma bem-sucedida experiência feita em parceria com a JAC Motors no ano passado, prevendo a inserção deste tipo de veículo em nossa frota, em breve”, anuncia.
Como desafios a serem superados, Botelho menciona a autonomia e a operacionalização de caminhões elétricos. A menor capacidade de carga em comparação com um veículo movido a combustão e a necessidade de recarga também se colocam como pontos a serem estudados e aprimorados, em sua opinião.
Simioni, da Coopercarga, entende que a eletrificação dos veículos veio em boa hora e já se tornou uma realidade no setor de transporte de cargas. “Apesar de no transporte de cargas extrapesado ainda haver dificuldade em relação ao peso das baterias, já podemos aproveitar outras opções menos poluentes, como os veículos a gás e, em um futuro próximo, os com selo de hidrogênio”, relata.
A Coopercarga já opera com veículos elétricos em distribuições urbanas. “Assumimos o compromisso de até 2026 termos toda nossa frota leve eletrificada e estamos trabalhando para tornar esse compromisso uma realidade, afinal, sustentabilidade é um de nossos valores”, acrescenta Simioni.
Para Paniz, do Grupo Farrapos, todo avanço deve ser comemorado, mas é preciso entender as limitações do tempo em que vivemos. “Hoje não possuímos fontes 100% limpas para a produção de energia elétrica. Assim corremos o risco de termos veículos elétricos abastecidos por usinas de combustível fóssil. Sem hipocrisia, temos de entender onde teremos o melhor ganho, se é investindo em veículos menos poluentes ou se as usinas serão menos poluentes”, observa.
Na opinião de Roberto, da Mira Transportes, a eletrificação é uma realidade mundial no setor. O que a impede de crescer nacionalmente com o mesmo ritmo de crescimento em outros países é o alto custo de investimento nos insumos. “É notório que diferenciais de ESG fazem com que os clientes analisem com mais critério e consigam dar valor a esta nova realidade, que já é vista de maneira rotineira em outras áreas da economia no mundo.”
Também toca na questão do alto custo Alcaraz, da JSL. “Temos alguns caminhões elétricos, usados principalmente na distribuição urbana, mas também estamos testando veículos de combustão híbrida – diesel e gás –, que demandam menos investimento do que o exigido para a compra de caminhões elétricos e são superiores em 30% na redução de emissão de poluentes quando comparados com veículos 100% a combustão”, conta.
“A eletrificação é uma necessidade. Se não ela, outras fontes energéticas não poluentes. O nosso setor não sobreviverá a uma crise climática, que virá acompanhada de uma crise econômica e social. E nós somos corresponsáveis. Os grandes desafios são os altos custos de investimentos. Mas, fazendo a conta a longo prazo, o empresário só tende a ganhar. Em termos de receita e de valorização de marca”, falam Suzin e Crosara, da Movah Group.
O Grupo Toniato já adquiriu um veículo elétrico e também outro movido a biometano. “Entendemos como uma tendência, mas as dificuldades ainda são inúmeras e o valor envolvido na aquisição deste tipo de veículo é muito superior ao de um veículo convencional, e isto cria barreiras”, expõe Monteiro.
Além do custo envolvido, há também a falta de estrutura para abastecimento e, devido a isto, a empresa está iniciando seu projeto de forma estratégica em rotas onde já é possível rodar de forma imediata. “Imaginamos que esta tendência não terá volta, motivo pelo qual já faz parte do nosso planejamento, mas não deixamos de buscar alternativas para a gestão do CO2 emitido pelos nossos veículos convencionais”, acrescenta.
Caldana, da Dachser Brasil, acredita que a eletrificação no transporte rodoviário ainda demore algum tempo até ser popularizada no Brasil, uma vez que a tecnologia ainda representa o triplo do valor das versões a diesel.
“Além do alto custo da tecnologia, existe a problemática do peso das baterias, que interfere expressivamente na tara dos veículos, que por sua vez impacta na tonelagem permitida nas rodovias. Assim, apesar de o tema estar em crescente desenvolvimento em todo o mundo, muitos assuntos ainda precisam ser discutidos para a tecnologia se tornar uma realidade acessível para o TRC no Brasil”, opina.
Tortorello, CEO da Jadlog, diz que a eletrificação dos veículos comerciais se alinha aos esforços de organizações de todo o mundo preocupadas em minimizar as emissões de CO2 e seus efeitos sobre o clima do planeta.
“A adoção de instrumentos de medição de sua pegada de carbono é uma das iniciativas necessárias para se obter assertividade na redução gradual das emissões de CO2. A utilização de veículos elétricos ou movidos a bicombustíveis, a diesel e a gás natural veicular, por exemplo, menos poluentes, são alternativas importantes nessa direção”, ressalta.
A eletrificação, para a RV Ímola, é objeto de aspiração em inovação, porém, a empresa entende que é necessário que sejam disponibilizados diversos pontos de recarga, para que seja efetivamente viável. “Até mesmo em trechos urbanos, considerando a autonomia de veículos elétricos, em muitos casos, não há como ser realizado o trajeto de ida e volta à base da matriz da empresa”, aponta Trevisan.
Os caminhões elétricos são um caminho sem volta, principalmente no abastecimento urbano, operações em que o caminhão faz um percurso menor. “Os principais problemas a serem superados são o custo muito elevado do veículo e a autonomia”, comenta, por sua vez, Reis, da Renascer Express.
Trajano, da Soluciona Logística, não tem dúvida sobre a necessidade de novas tecnologias, em especial os veículos elétricos, para a sobrevivência do setor. “Este ainda é um mercado de pouca escala e poucos players, mas à medida que as empresas tomarem consciência desta realidade, poderemos dar passos mais largos na direção de uma frota totalmente sustentável.”
Para ele, há vários fatores para mudar uma matriz enérgica, desde a própria geração de energia, passando pela capacidade de produção de baterias, até a infraestrutura de apoio nas rodovias para este tipo de veículo, citando somente alguns dos gargalos e desafios que certamente serão vencidos frente à necessidade de termos uma matriz energética limpa.
“Neste sentido, já temos investido em veículos elétricos, sendo uma parte para projetos já contratados por clientes e outra para ofertar ao mercado esta solução limpa, que estamos chamando de Rota Verde Soluciona”, adiciona o profissional.
“Por ser um classe muito desunida, as disputas no segmento do TRC pelos mesmos clientes continuarão tendo o frete como diferencial na maioria das vezes, quando apenas o embarcador sai ganhando”, declara Sartori, da Transal.
Para ele, o repasse dos preços nos fretes será um dos maiores problemas daqui para o futuro, condicionado, claro, à baixa ou não dos preços do diesel, pneus, caminhões e peças, entre outros custos. Falar da nossa malha rodoviária é “chover no molhado”, por mais que os governos invistam em ampliações, implantações e melhorias em algumas de nossas estradas e rodovias, no mesmo momento há outras que estão totalmente deterioradas e abandonadas, o bastante nunca será o suficiente.