Transporte de telescópio mobiliza quase 100 pessoas no Sul de Minas Gerais

Um telescópio 23 toneladas está movimentando a região de Itajubá e Brazópolis, no Sul de Minas Gerais. O equipamento, denominado PanEos, chegou à cidade em quatro conteiners de 40 HC – o maior contêiner que existe -, e está sendo instalado no Pico dos Dias, a 1.864 metros de altitude.

Avaliado em R$ 12 milhões, o telescópio é usado para monitorar lixo espacial, evitando alterações no posicionamento de satélites e possíveis colisões com foguetes. A carga de origem russa chegou ao porto de Santos e foi despachada para o porto seco de Varginha pela Bretas Broker Comércio Exterior e pela AZ LOG – Logística Internacional.

O transporte do equipamento contou com uma série de desafios, a começar pela comunicação com a equipe russa da Roscosmos (agência espacial Russa), responsável pelo projeto de monitoramento espacial e montagem do equipamento. “Tivemos que encontrar um tradutor de Russo para Português com experiência na área de astrofísica, para que pudéssemos entender todos os detalhes da operação e características particulares do equipamento, além de planejar com exatidão a operação que está sendo desenhada há mais de um ano”, ressaltou Redilton Bretas, diretor da Bretas Broker.

A liberação da carga no porto de Santos foi outro dificultador, uma vez que o telescópio é um produto bastante específico e vem desmontando – o que não torna possível a sua identificação pelos auditores da Receita Federal. Devido a isso, foi preciso acionar um perito certificante nomeado pela própria Aduana, com competência na área, que está acompanhando toda a montagem do equipamento, e somente poderá emitir o laudo para desembaraço aduaneiro após o mesmo estar completamente montado. “Conseguimos uma liberação incomum para montagem do equipamento no Pico dos Dias, antes do seu desembaraço aduaneiro, por ser uma carga extremamente delicada e que não pode ser movida de um ponto a outro após a sua montagem”, destacou Redilton.

“Devido à complexidade do equipamento e ao seu alto valor tecnológico, o equipamento necessita ser manuseado e montado por técnicos do próprio fabricante. Esses técnicos são de nacionalidade russa e somente essa equipe treinada e perita tem condições de separar e manusear adequadamente cada item e montá-los de maneira correta para que, então, se forme o telescópio”, explicou Bruno Albernaz, da AZ LOG – Logística Internacional.

Além das questões burocráticas, foi preciso um cuidado especial no desembarque e no transporte rodoviário, por ser uma carga extremamente sensível. “A desova teve de ser feita com todo o cuidado para não comprometer o equipamento. Além disso, tivemos que transportar as partes maiores do telescópio em uma estrada muito estreita e íngreme, que dá acesso ao topo do Pico dos Dias. Ao todo, tivemos cerca de 30 pessoas envolvidas nessa etapa.”, destacou Bruno.

“Devido à grande altitude do local de instalação e a dificuldade de acesso, foi necessário um acompanhamento dedicado, equipamentos adequados e um planejamento cuidadoso feito por nossas empresas. Foi elaborado, ainda, um estudo com a melhor rota, desde a saída da fábrica na Rússia até a instalação no Pico dos Dias, levando em consideração a rota com menor risco de avarias no equipamento”, complementou Redilton.

Por se tratar de pesquisa científica e entrada temporária da mercadoria (prazo de três anos, prorrogável por mais três), a equipe de logística efetuou também uma análise criteriosa para enquadrar o projeto no Regime Aduaneiro Especial de Admissão Temporária para Pesquisa Científica, na qual houve primeiramente a autorização do projeto pelo Conselho Nacional de Pesquisa Cientifica (CNPq) e, posteriormente, houve a autorização da Receita Federal (Unidade Varginha) para que se fizesse o processo de Admissão Temporária.

As equipes da Bretas Broker e da AZ LOG conseguiram ainda a exoneração do ICMS referente à mercadoria, uma vez que Receita Estadual de Minas deferiu o pedido de suspensão desse imposto incidente na importação enquanto vigorasse a pesquisa. “Todo esse trabalho de enquadramento foi feito com bastante cautela. Devido à nossa experiência e conhecimento da legislação, conseguimos com êxito o atendimento dos órgão competentes”, concluiu Redilton.

Local de Instalação

O local de instalação e operação do equipamento foi selecionado considerando vários aspectos técnicos, operacionais e logísticos. O Pico dos Dias fica situado na divisa dos municípios de Brazópolis e Itajubá e tem a altitude de 1.864 metros em relação ao nível do mar. Esse local é ideal para operação do equipamento, pois além da favorável altitude, contém clima ameno e céu claro na maior parte do ano e, principalmente, uma estrutura adequada, pois é onde se concentram outros telescópios operados pelo LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica), havendo assim pesquisadores e operadores aptos a operar o novo Telescópio.

Introdução do projeto e seus participantes

Na órbita terrestre há muita incidência de detritos transeuntes (popularmente conhecido como lixo espacial). Esses detritos causam problemas de interferência em telecomunicações, pois estão em rota de colisão com satélites ativos e podem ser obstáculos para foguetes lançados para fora de nossa atmosfera. Visando o rastreamento, mapeamento e monitoramento destes detritos, a empresa Russa JC “RPC” “PSI” e Agência Espacial Russa (Roscosmos) desenvolveram um equipamento denominado PanEos (ou OEC DSD), que tem a capacidade de captar imagens desses objetos e, ao mesmo tempo, interpretar fatores e aspectos dos detritos, dados estes que são utilizados para evitar que estes detritos causem danos que podem chegar a milhões de dólares em caso de colisão com satélites ou foguetes.

Este tão avançado telescópio teve a produção limitada, sendo que um foi produzido exclusivamente para o Brasil e os outros semelhantes em locais estratégicos do globo terrestre. Com isso, as informações dos raros equipamentos serão comparadas para se montar o mapa desses detritos.

Além do fabricante JC “RPC” “PSI” e da agência Roscosmos, no Brasil esse projeto será gerenciado tecnicamente pelo Laboratório Nacional de Astrofísica, que é uma autarquia do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. E, para administrar o projeto e os recursos do mesmo, foi selecionada como colaboradora e executora de aquisição do projeto a Fundação de Pesquisa e Assessoramento à Indústria (Fupai).