A venda de motos usadas e seminovas no País atingiu no ano passado o maior nível desde 2004 – início da série histórica dos dados apurados pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) e disponíveis para consulta no site da entidade. O desempenho do setor de duas rodas vai na contramão do mercado de automóveis, que apresentou retração em 2015.
Ao todo, 2,857 milhões de motocicletas usadas ou seminovas foram vendidas no Brasil no ano passado, o que representa aumento de 1,84% em relação a 2014, quando 2,805 milhões de unidades saíram das lojas. Apesar de o crescimento ter sido baixo – o menor desde 2004 –, os dados chamam a atenção, já que, no mesmo período, o comércio de automóveis que já haviam passado por proprietários anteriores caiu 1,03%.
O superintendente do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo), Octavio Leite Vallejo, avalia que as estatísticas podem indicar uma mudança na tendência, em que os consumidores estariam optando por trocar os carros pelas motos. “A motocicleta é muito mais econômica. Para quem precisa pegar muitas conduções por dia, é o ideal. Há também casos de pessoas que vendem o automóvel para comprar uma moto mais barata e, com o dinheiro restante, pagar dívidas.”
Moradora de Santo André, a psicóloga Larissa de Castro, 23 anos, chegou a pensar em adquirir um carro. Entretanto, após pesquisar preços, optou pela moto. Escolheu uma Suzuki Intruder 125 cilindradas fabricada em 1996, pela qual pagou R$ 2.500. “É muito mais econômica. Chego a gastar, no máximo, R$ 60 a R$ 80 em combustível por mês”, comenta. Ela acrescenta que a praticidade oferecida pelo veículo de duas rodas também pesou em sua decisão. “O trânsito é uma das razões que me fizeram desistir totalmente da ideia de ter um carro”, complementa.
Para se ter ideia da redução nos gastos com combustível, uma moto com 125 cilindradas supera os 40 quilômetros percorridos com apenas um litro de gasolina, enquanto um automóvel com motor 1.0 dificilmente atinge a marca de 15 quilômetros por litro.
Apesar do aumento nas vendas, o economista Guilherme Dietze, da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) avalia que ainda é cedo para afirmar com clareza que a população está, realmente, trocando o carro pela moto. “Ainda não dá para dizer que a massa está mudando. É simplesmente um nicho. O movimento mais generalizado é o de pessoas que vendem o veículo para reduzir despesas, sem substituí-lo por outro.”
Mercado de zero-quilômetro cresce
O setor de motos zero-quilômetro registrou alta de 2,76% nas vendas em dezembro do ano passado na comparação com o último mês de 2014. Foram 131,2 mil unidades comercializadas, o que representa 3.522 veículos a mais. Foi o melhor desempenho mensal desde janeiro de 2014.
No acumulado do ano, entretanto, o segmento ainda teve retração. Foram 1,273 milhões de motos novas vendidas em todo o País em 2015, queda de 10,96% em relação a 2014, quando 1,429 milhões de unidades deixaram as concessionárias.
Na região, alguns lojistas já sentem o aquecimento desse mercado. O gerente de vendas da Honda Japauto de Santo André, Alex Morais, registrou aumento nas vendas em janeiro e dezembro. A loja trabalha com uma média de 80 motos vendidas por mês. Para janeiro, entretanto, a projeção é de que se chegue a 95 unidades. Ele comenta que o modelo que mais sai é a CG 160, cujo preço parte de R$ 9.000. “O pessoal que troca carro por moto acaba optando pela scooter, por ter um design melhor e não ser tão associada aos motoboys”, diz. Esse tipo de veículo é comercializado a partir de R$ 11,8 mil.
Já João Donizete da Costa, gerente da Andreense Motos, revendedora da marca Yamaha, ainda demonstra pessimismo em relação ao momento atual do mercado. “No ano passado, chegamos a ter as vendas reduzidas em 40%. Depois houve ligeira recuperação, mas em um patamar 30% inferior ao que era”, lamenta. Segundo ele, a preferida dos clientes é a Factor 125, cujo preço parte de R$ 5.990.
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