A divisão de caminhões e ônibus do grupo Volkswagen passa por um dos piores momentos de sua história no Brasil, mas optou por apostar no futuro. A empresa anuncia seu plano para os próximos cinco anos, período em que pretende investir R$ 1,5 bilhão no desenvolvimento de produtos e modernização das fábricas.
“Os mercados emergentes têm ciclos de crescimento e de retração (…). Nesses momentos terríveis, é preciso criar um plano para avançar e sobreviver”, disse Andreas Renschler, presidente mundial da divisão de caminhões do grupo Volkswagen.
O executivo acredita na retomada do mercado nacional a partir de 2017 –um recomeço tímido, com expectativa de 1% de crescimento nas vendas em relação a 2016. “O Brasil vai melhorar, mas não dá para precisar quando. A crise está sendo pior agora”, afirmou Renschler.
O esperado avanço ocorrerá sobre um resultado pífio. Em 2011, as fábricas de caminhões do grupo Volkswagen no Brasil produziram, em média, 350 caminhões e ônibus por dia. Havia três turnos de trabalho e motivos para um planejamento bastante otimista, que contemplava os cinco anos seguintes.
Na época, a empresa aplicou R$ 1 bilhão e viu o setor encolher. A ociosidade chega a 75% nas unidades de Resende (RJ) e de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), onde são produzidos os caminhões da marca sueca Scania, que faz parte do grupo VW, assim como a MAN.
A empresa aderiu ao PPE (Plano de Proteção ao Emprego) em 2015, e boa parte dos 4.900 funcionários está afastada. Houve também programas de demissão voluntária.
Pelas contas da Anfavea (associação nacional que representa as fabricantes de automóveis), o setor de veículos pesados deve fechar 2016 com 59 mil unidades vendidas. É uma volta a 1999, ano em que 61 mil ônibus e caminhões foram emplacados.
BATE-PAPO
Na manhã da última quinta-feira (1°), Andreas Renschler e Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus no Brasil, tiveram um encontro com o presidente República, Michel Temer, e com o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira.
Segundo os executivos, a conversa serviu para repassar o plano de investimento até 2021 e frisar que “as empresas alemães pensam no longo prazo” e, por isso, “são perseverantes em momentos difíceis” como o atual.
Tal perseverança implica esperar até 2022 para ver o mercado retomar os níveis de 2011, quando foram vendidos 208 mil veículos pesados no país. Isso dependerá de avanços no setor de exportações, que é parte fundamental do futuro rearranjo da política industrial.
Pelos planos da Volkswagen, o investimento anunciado deve ser “autofinanciável”, mas não está descartada a possibilidade de pegar empréstimos. “Se houver dificuldade, recorreremos, sim, ao BNDES”, disse Cortes.
Em outros mercados, a empresa tem obtido bons resultados. Há crescimento na Europa (Oriental e Ocidental) e na China, além de planos de expansão na América do Norte por meio de acordo comercial com a Navistar.
Fonte: Folha de S. Paulo